A elaboração de estratégias com apoio de biólogos, ornitólogos e outros conhecedores dos ciclos dos animais visados serviria para potencializar o trabalho dos poucos fiscais e policiais especializados no combate ao tráfico da natureza.
Nas universidades, pessoas que defendem esse tipo de tática. O professor Enrico Bernard, do departamento de Zoologia da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), orientador de pesquisas sobre o comércio ilegal de aves, confirma que é possível se determinar a região de onde os animais são capturados e também a época do ano em que as ocorrências são maiores. “Esse mapeamento é possível e outros artifícios jurídicos podem ser usados, como a delação premiada”, propõe Enrico Bernard.
O professor Enrico Bernard considera o tráfico o sumidouro da biodiversidade nacional. “Em uma pesquisa, estimamos que até 52 mil animais podem ser comercializados em apenas 8 feiras em um ano. E fomos conservadores. Pegue estas estimativas e multiplique pelo número de feiras de bichos que existem pelo Brasil e você vai ter uma idéia do tamanho do estrago”, alerta. “O estrago está sendo subdimensionado”.
Sem impunidade
Ele conta que, em parceria do SOS Fauna com agentes da Polícia Federal, um criminoso conhecido foi detido, mas não foi mantido preso. Ao contrário: os policiais conseguiram autorização para se fazer escuta das ligações do celular do suspeito para se localizar os outros envolvidos no transporte dos bichos. Em um segundo momento, todos foram presos por tráfico de animais e, principalmente, formação de quadrilha. “A pena é maior e eles não saem da delegacia para voltar a traficar com tanta pressa”, prega.
Marcelo Rocha conta casos de suspeito detido com grande quantidade de aves nativas, que perde a carga, perde o automóvel que utilizava, mas ganha a liberdade depois de indiciado na delegacia. “Na semana seguinte, em nova operação, o mesmo suspeito foi preso com nova carga”.
Nesses casos, a major Erika Melcop, comandante da Companhia Independente de Policiamento ao Meio Ambiente (Cipoma) da Polícia Militar de Pernambuco, recomenda o rigor da multa. “Um recurso válido para punir, administrativamente, o criminoso”, diz.
Apreensão de papagaios
As centenas de filhotes foram retiradas do comércio negro e levadas para o Centro de Triagem de Animais Silvestres (Cetas) criaram uma dificuldade: como alimentar tantos filhotes, ao menos três vezes ao dia? O Ibama fez uma convocação pública por voluntários e a resposta foi rápida: cerca de cem pessoas se apresentaram para auxiliar na tarefa.
A reunião de voluntários em benefício de animais roubados da natureza é prática frequentemente adotada pelo SOS Fauna. Eles deram apoio ao Ibama em Pernambuco e, em outra grande operação, vão levar para o Mato Grosso do Sul várias papagaios apreendidos e colocados sob os cuidados da ONG.
A apreensão da carga feita em Pernambuco revela outro aspecto preocupante, conta Marcelo Rocha: “As aves estão sendo capturadas na fase de nascimento do papagaio-verdadeiro”. No levantamento foi pelo SOS Fauna, 1.369 filhotes desta espécie foram identificados em sete apreensões. “Em duas dessas ações, as aves estavam com as mesmas pessoas em um período menor que 15 dias”.
A bióloga Juliana Machado Ferreira, pesquisadora da Universidade de São Paulo (USP) disse que nessas apreensões foram encontradas apenas espécies com menos de 10 dias de vida. As aves estão entre os animais mais apreendidos, de acordo com os dados do Cetas em Pernambuco. Em 2010, foram retirados da natureza 5.843 animais. Destes, 5 mil eram aves. De janeiro até o início de outubro, 5.072 animais ingressaram no Cetas, sendo 4.478 aves.
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