Todos nós, primatas, vivemos em sociedade. E assim como nós, humanos, alguns primatas deixam sua família original e partem em busca de uma nova vida. Foi o que fez Bonita, uma fêmea da espécie muriqui-do-norte (Brachyteles hypoxanthus), o maior e um dos mais ameaçados primatas não humanos das Américas. Ela deixou seu grupo natal em busca de um novo lar, mas, devido à perda e fragmentação das florestas, ficou isolada em um fragmento de mata menor que um campo de futebol, cercado de pastagens e plantações de café no entorno do Parque Nacional do Caparaó, Espírito Santo, e nunca conseguiu encontrar outro grupo de muriquis.
Os muriquis são seres sociais e vivem em grupos compostos por vários machos e fêmeas. Os machos permanecem no mesmo grupo em que nascem e as fêmeas migram para outros grupos antes de atingirem a puberdade, o que ocorre por volta dos seis anos. Entre eles não existe uma dominância clara, nem existem disputas agressivas por alimentos, por acasalamento ou mesmo por local de dormida. Os abraços são um comportamento típico da espécie. Esse estilo pacífico os fez ficarem conhecidos como “macacos hippies” ou “povo manso da floresta”. Por isso, deve ser muito difícil para Bonita permanecer sem companhia para abraçar, comer, dormir, se aquecer em um dia de chuva ou mesmo não ter alguém para responder aos seus chamados.
A muriqui foi encontrada em maio de 2018 pela equipe do Parque Nacional do Caparaó, que prontamente contatou os pesquisadores do Projeto Muriquis do Caparaó. Eles lançaram uma campanha de fundo coletivo intitulada “Abrace o Muriqui”, com objetivo de financiar sua mudança para outra área com muriquis, onde poderá se reproduzir e contribuir para o futuro da sua espécie. Os muriquis estão Criticamente em Perigo de extinção e contam com menos de 900 indivíduos na natureza.
Financiamento manterá projeto
A campanha pretende arrecadar 72 mil reais. Os fundos arrecadados durante a campanha ajudarão no monitoramento pré-captura que está em andamento, na captura, no monitoramento pós-captura, nos custos da mudança e na produção de um pequeno documentário para uso em campanhas de conscientização. A captura será feita por uma equipe multidisciplinar, envolvendo veterinários e biólogos especializados em técnicas de escaladas, responsáveis por resgatar Bonita do dossel das árvores quando ela for anestesiada, evitando assim que ela fique presa ou sofra uma queda, o que poderia ser fatal. Além da captura e transporte para outra área, o valor arrecadado será usado para cobrir os gastos logísticos de deslocamento, hospedagem e alimentação da equipe durante os dias de campo em ambas as áreas, os exames realizados, equipamentos, locação de veículos, e o monitoramento através de rádio colar quando Bonita estiver no novo lar. A forma como os recursos serão gastos estará disponível para o público no mini blog do site da campanha.
A mudança de Eduarda
O Projeto Muriquis do Caparaó também realizou, em 2006, a mudança [translocação] de Eduarda, uma fêmea de muriqui que vivia em condições semelhantes à de Bonita, em um pequeno fragmento no entorno no Parque Estadual da Serra do Brigadeiro. Ela foi translocada para a RPPN Mata do Sossego em Simonésia, também em Minas, por um grupo de pesquisadores coordenados pelo primatólogo Dr. Fabiano Melo, que também está envolvido na translocação de Bonita. Eduarda encontrou o único grupo de muriquis que vivia na área e um ano depois ela deu à luz seu primeiro filhote. Desde então, já gerou cinco filhos em seu novo grupo. Um vídeo sobre o sucesso desta mudança pode ser visto aqui.
Serviço
Site da campanha: ABRACE O MURIQUI! Ajude a Muriqui Bonita
Facebook: Projeto Muriquis do Caparaó / Caparaó Muriquis Project
Instagram: Projeto Muriquis do Caparaó (@savethemuriqui)
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