O Cerrado vai desaparecer até 2030. A notícia espalhou-se em alarmantes manchetes na imprensa e, como veio, passou. O sombrio anúncio foi feito em um relatório divulgado em julho pela Conservação Internacional do Brasil, com o título “Estimativas de perda da área do Cerrado brasileiro”.
Mas o estudo – primeiro mapeamento em larga escala de um bioma brasileiro, baseado em imagens de satélite – não empaca no pessimismo. Além de evidenciar a ininterrupta diminuição da cobertura vegetal do Cerrado, num ritmo de 2,2 milhões de hectares a menos por ano, traz informações relevantes sobre a biodiversidade do segundo maior bioma nacional, trata das transformações produtivas que acarretaram a degradação de algumas áreas e pouparam outras, e apresenta sugestões para preservar o que resta e recuperar o que já está comprometido.
Os dados a partir 1995 não deixam dúvidas: a soja é o maior vilão do atual desmatamento do Cerrado. Em sete anos, a área de cultivo praticamente dobrou de tamanho. Mas os autores do estudo sustentam que o principal problema, quando o assunto é agricultura, são as “políticas públicas conduzidas de forma antagônica”. Explica-se:
Se por um lado o Ministério do Meio Ambiente – MMA trabalha para que o porcentual de áreas protegidas no Cerrado aumente para um patamar maior (hoje as unidades de conservação representam 2,2% da área original do Cerrado), o Ministério da Agricultura trabalha com uma perspectiva de utilização de aproximadamente 100 milhões de hectares adicionais para a expansão da agricultura.
Daí a necessidade de um “pacto político” entre ministérios, estados e sociedade para implementar as dez ações remediadoras sugeridas, concentradas em mais recursos, mais áreas protegidas, formação de recursos humanos e investimento na economia local, com ênfase em cultivos originais de cada região.
Para quem não se conforma em adotar o luto com 26 anos de antecedência, vale conhecer a íntegra do relatório Estimativas de perda da área do Cerrado brasileiro [ pdf ].
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