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Caminhos da conservação – Observar aves como porta de entrada para cuidar da natureza

16ª Edição do Avistar Brasil começa nesta sexta-feira (19) na capital paulista. Ciência, fomento ao turismo, preservação e cultura indígena são temas do evento

Cristiane Prizibisczki ·
19 de maio de 2023

Começou nesta sexta-feira (19), na capital paulista, a 16ª edição do Encontro Brasileiro de Observação de Aves, o Avistar-Brasil. Após três anos no formato virtual, o evento volta a acontecer presencialmente, até o próximo domingo (21), no campus da Universidade de São Paulo (USP).

A programação é gratuita e conta com palestras, apresentação de posters, feira de livros e produtos, além de oficinas para iniciantes na atividade de birdwatching – como a observação de aves é conhecida – e atividades para o público infantil.

((o))eco conversou com Guto Carvalho, criador do Avistar, sobre a atividade no país e sobre o Avistar Brasil, que se tornou um espaço único para quem deseja entrar no universo do birdwatching ou se aprofundar nele.

((o))eco: O que mudou no Avistar desde sua primeira edição, há 16 anos?

Guto Carvalho: Hoje a observação de aves é uma realidade da cultura brasileira. Quando a gente começou não existia isso, era um uma coisa super específica, de nicho, de um nicho exclusivo. A gente só recebia gringos, era meia dúzia de brasileiros que tinha uma cabeça global que praticavam birdwatchig. Hoje em dia não, em qualquer recanto no Brasil você vai ter gente praticando birdwatching, feliz, consciente, produzindo ciência cidadã, produzindo artesanato… Antigamente existia só meia dúzia de livros [sobre o assunto], você não via um produto, uma caneca… hoje a quantidade de itens conectados à cultura das aves é muito grande, temos marcas muito boas de livros, temos aplicativos, produtos, é um ecossistema todo. 

E como essa disseminação do assunto ajuda na conservação?

Historicamente, o brasileiro tem a marca de ser um povo que se dedica a explorar o Brasil. O brasileiro era o que extraía o pau-brasil e continua extraindo as riquezas naturais enquanto sociedade, digamos assim. A observação de aves e várias outras atividades têm o poder de oferecer um outro tipo de relação com a natureza. É justamente isso que a gente vê aos poucos sendo modificado, seja pelo birdwatching, pelo montanhismo… Mas o birdwatching é uma delas dentro desse ecossistema de atividades que oferecem uma relação mais saudável, mais amorosa, de mais sensibilidade com relação à natureza.

Existe um censo de quantos observadores de aves existem no Brasil?

Nós acabamos de finalizar o 3º Censo Brasileiro de Observação de aves, que é uma iniciativa que fazemos a cada cinco anos e cujos resultados serão apresentados durante o Avistar. Mas este é um censo qualitativo, nós vamos mostrar qual o perfil socioeconômico do observador no Brasil. Em termos quantitativos, depende muito de como se define o observador. Se uma pessoa coloca um bebedouro de beija-flor no fundo do quintal, ela conta como birdwatcher ou não? Se ela conta, eu posso te dar um número, já que são vendidos cerca de 300 mil bebedouros por ano no Brasil. Agora, se a definição for aquela pessoa que fez o registro fotográfico no Wikiaves, então temos 40 mil. A gente segue a definição do Serviço de Pesca e Vida Selvagem dos Estados Unidos, que tem um critério mais amplo, então, no Avistar, nós computamos entre 200 a 300 mil observadores no país.

É um número crescente no país, não é?

Nós, quando começamos, fizemos um trabalho pioneiro, junto com vários outros pioneiros, e hoje a gente vê que…uau! A marca [Avistar] está andando e ela é maravilhosa, a quantidade de pessoas, de projetos, de ideias, experimentos, aprendizados, é incrível. A primeira coisa é quando você vê o número de trabalhos e palestras sendo apresentados, são 140, de demandas espontâneas das pessoas que estão produzindo conhecimento sobre a relação dos brasileiros com sua natureza. Isso denota uma mudança muito importante. Este ano também tivemos um número recorde de inscritos. Nos anos anteriores, tínhamos 300 inscritos, que são as pessoas que vão receber certificado, mas apareciam 1,5 mil, 2 mil pessoas por dia de evento. Este ano tivemos 2 mil inscritos e eu não tenho a menor ideia de quantas pessoas irão, só sei que vai muita gente.

O que você diria para as pessoas que pensam em ir ao Avistar? Quais são os principais atrativos?

Eu poderia te dizer que vão ter palestras fenomenais, tem livros lindos, convidados incríveis, mentes brilhantes… É claro que isso é muito importante, mas acho que o principal é um encontro, é uma oportunidade de as pessoas se encontrarem. Eu acho que esse é o grande atrativo, não é muito espécies, não é palestra… é um lugar onde tem gente que gosta de natureza onde você pode encontrar pessoas iguais a você, que têm essa paixão, e acho que essa é, sem dúvida, a principal motivação.

Atrações 

Nos diversos espaços do Avistar, estão previstas atividades para iniciantes, como passarinhadas e saídas a campo, além de oficinas de jogos, desenho arte e fotografia de aves para o público infantil.

Nas diversas salas que vão compor o espaço do Congresso Avistar, haverá palestras sobre conservação, turismo, educação, arte, ciência, cidadania e florestania. Entre as novidades, o 1º guia de aves em língua Xavante e a observação de aves para deficientes auditivos. 

Também estão na agenda de eventos apresentações de resultados de projetos relacionados à conservação, como os desenvolvidos para a rolinha-do-planalto, jacutinga e mutum-do-sudeste.

Confira a programação completa aqui.

  • Cristiane Prizibisczki

    Cristiane Prizibisczki é Alumni do Wolfson College – Universidade de Cambridge (Reino Unido), onde participou do Press Fellow...

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