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COP não será uma Copa, diz governo sobre Conferência do Clima de Belém

Anúncio de um possível mascote para a COP30, o Curupira, gerou debates sobre distorção do real objetivo da Conferência do Clima da ONU

Cristiane Prizibisczki ·
17 de janeiro de 2025

A notícia de que o governo já teria escolhido um mascote para a 30ª Conferência do Clima da ONU, a ser realizada em novembro em Belém (PA), movimentou redações de jornais e redes sociais esta semana. O Curupira, figura do folclore brasileiro, de origem amazônica, seria o escolhido. O personagem lendário, conhecido por proteger as matas de caçadores, teria sido eleito para divulgar o evento internacionalmente e para estampar os materiais do governo.

A assessoria de comunicação da COP30 não confirma a escolha. A ((o))eco, o setor disse que o Curupira é um entre os vários personagens da cultura popular brasileira que estão sendo estudados para compor a identidade visual da COP30. 

O governo, garante a equipe de comunicação, ainda não bateu o martelo sobre qual será o mascote e nem se, de fato, haverá um – o primeiro na história das Conferências do Clima da ONU.

O fato é que o anúncio de um mascote, antes mesmo de a COP ter um presidente, gerou questionamentos sobre a forma como o governo pretende conduzir a Cúpula.

Conferências do Clima são espaços onde difíceis negociações técnicas e políticas são travadas. Nelas, a capacidade diplomática – e o jogo de cintura político – dos negociadores dos mais de 190 países que compõem a Convenção é que define um bom resultado.

Iniciadas em 1995, as Conferência do Clima da ONU foram durante muitos anos eventos restritos, de pouca participação da sociedade civil e baixa atenção da mídia.

Segundo o site da UNFCCC, órgão subsidiário da ONU responsável pelas discussões climáticas internacionais, o número de atendentes nas Conferências vem crescendo gradualmente ao longo dos anos. 

A primeira COP, realizada na Alemanha, contou com a participação de 3.969 pessoas. Na última, a COP29, realizada no Azerbaijão, 40,6 mil pessoas compareceram. 

E esta não foi a maior Conferência. No ano anterior, 70 mil pessoas participaram da COP28, realizada em Dubai. 

Mas as COPs não são Copas e o receio é que, ao tornar-se um grande evento midiático, sua natureza seja desvirtuada. No número crescente de participantes, estão incluídos lobistas dos combustíveis fósseis e de cadeias produtivas ligadas ao desmatamento, como a pecuária, por exemplo.

Segundo especialistas, a presença cada vez maior de membros destas indústrias nos espaços das negociações das Conferências do Clima, e a potencial influência sobre as negociações, é um ponto de grande preocupação.

Tanto é que, em novembro passado, um grupo formado por grandes nomes da ciência do clima no mundo, entre eles o ex secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, e o cientista climático brasileiro Carlos Nobre, publicou uma Carta Aberta pedindo a “reforma da COP”.

O documento contempla sete pedidos, entre eles reduzir o tamanho do evento, que escalou nos últimos anos, com participações questionáveis.

Outra preocupação é que, quanto mais gente, mais público para os políticos que querem se aproveitar da situação para vender seu peixe. 

Tanto é que vários líderes de estado presentes na COP29 fizeram belos discursos que, ao final da Cúpula, não estavam alinhados ao posicionamento de seus países nas negociações.

Por isso, os especialistas que pedem a reforma da COP também solicitam o fortalecimento dos mecanismos de responsabilização dos países por suas metas e compromissos climáticos, já que o modo atual claramente não está funcionando. 

Para a COP do Brasil, a estimativa é que o número de participantes ultrapasse, pela primeira, os três dígitos. A ((o))eco, a assessoria de comunicação da COP30 afirmou que “o governo está fazendo de tudo para não transformar a COP30 em uma Copa”. 

Com a animação típica do povo brasileiro e um mascote pra chamar de seu, no entanto, essa talvez seja uma tarefa difícil de ser executada.

  • Cristiane Prizibisczki

    Cristiane Prizibisczki é Alumni do Wolfson College – Universidade de Cambridge (Reino Unido), onde participou do Press Fellow...

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