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“Precisamos conseguir a licença” para pavimentar BR-319, diz número 2 do Ministério dos Transportes

Em audiência pública marcada por falas a favor da obra, representantes demonstraram empenho da pasta em asfaltar a via, um dos principais focos de desmatamento no bioma

Gabriel Tussini ·
17 de janeiro de 2024

O Ministério dos Transportes realizou na manhã desta terça (16), em Porto Velho, a terceira audiência pública do Grupo de Trabalho da Rodovia BR-319, que liga a cidade a Manaus. Na reunião, representantes do próprio Ministério, do governo de Rondônia, do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT), do Ibama, do agronegócio e de sindicatos discutiram possibilidades de licenciamento ambiental para a pavimentação da rodovia, já hoje um dos grandes focos de desmatamento e emissões de carbono na Amazônia. As outras duas reuniões ocorreram no fim do ano passado, em Brasília (com políticos dos dois estados) e Manaus.

No encontro, que não foi transmitido para o público, o secretário-executivo do Ministério, George Santoro, afirmou que “a gente precisa conseguir a licença de instalação” para as obras na rodovia, que liga as cidades de Porto Velho e Manaus. Para isso, o número 2 da pasta comandada pelo ministro Renan Filho disse que o relatório final do grupo de trabalho, previsto para fevereiro, deve apontar “os caminhos para resolver o licenciamento ambiental junto aos órgãos de controle e para gente entender o que é necessário para fazer o licenciamento”, com “um grande mapa de responsabilidades, metas e prazos”. 

A maior parte dos presentes pressionou pela realização das obras. “Estamos cobrando agilidade, esse foi o nosso papel; na nossa fala nós tivemos a oportunidade de cobrar mais empenho e mais agilidade nessa questão”, disse Francisco Bezerra, presidente da Associação dos Usuários de Transportes Coletivos e de Passageiros no Estado do Amazonas, ao portal RealTime1. Já Fabrício Jurado, secretário-geral de governo da Prefeitura de Porto Velho, afirmou que “nós sofremos muito com a 319 na época do inverno amazônico, já que a rodovia fica totalmente intransitável, então deixamos de transportar produtos”, citando desabastecimentos de oxigênio hospitalar, combustível e alimentos, além da última seca no Rio Madeira, uma alternativa ao transporte rodoviário.

A pavimentação da via, porém, deverá trazer um aumento ainda maior de desmatamento – inclusive com a construção de “ramais”, pequenas vias ilegais conectadas à principal e abertas em meio à floresta –, o que resultará num agravamento das secas. É o que alertou Lucas Ferrante, biólogo e professor da Universidade Federal do Amazonas (UFAM), em entrevista a O Globo. Ou seja, o que é apontado como “solução” deverá piorar o problema.

“Hoje em dia, nós temos tanto materiais para pavimentar e implantar uma rodovia de forma segura, como nós também temos outros mecanismos de controle para combater descaminhos que podem acontecer. Hoje o mundo inteiro já sabe que a ausência de infraestrutura pode proporcionar um descaminho e não a presença de infraestrutura”, defendeu a secretária nacional de Transporte Rodoviário, Viviane Esse, mesmo que apenas os municípios da área de influência da estrada tenham sido responsáveis por 16% do desmatamento em toda a Amazônia em 2022.

Além de Santoro e Esse, estiveram presentes como representantes do Ministério dos Transportes o secretário de sustentabilidade da pasta, Cloves Benevides; o diretor-presidente da Infra S.A., Jorge Bastos; e o diretor-executivo do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT), Carlos Barros. Além deles, também compareceram o vice-governador de Rondônia, Sérgio Gonçalves da Silva, e representantes de entidades como Ibama, Centro Gestor e Operacional do Sistema de Proteção da Amazônia (Censipam), Polícia Rodoviária Federal, Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Rondônia-(Faperon), Federação das Indústrias do Estado de Rondônia (Fiero) e Sindicato dos Motoristas e Trabalhadores em Transporte Rodoviários de Passageiros e Cargas no Estado de Rondônia (Sinttrar).

  • Gabriel Tussini

    Estudante de jornalismo na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), redator em ((o))eco e interessado em meio ambiente, política e no que não está nos holofotes ao redor do mundo.

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Comentários 6

  1. Dirceu diz:

    Essa história todos nós já conhecemos , foi assim tbem na BR 163 , vejam como está agora a floresta em torno da BR 163 , em novo “ progresso” , totalmente desmatada ilegalmente, infestada de grileiros e madeireiros ilegais , supostos produtores rurais que nada produzem a não ser a venda ilegal de madeira 🪵 e destroem a biodiversidade da floresta 🌳, nunca a exploração se deu de forma equilibrada, o Brasil 🇧🇷 jamais teve e tem quaker controle eficiente com relação ao desmatamento e todas estradas feitas na Amazônia até hoje só provam isso mesmo, são Vetores dessa infecção generalizada , do roubo de terras públicas ,que são griladas , conflitos com terras indígenas , etc etc , até o próprio clima amazônico está mudando, secas prolongadas e escassez de água , onde antes era abundante e cheia de fauna e flora , os Desgovernod tem perpetuado o
    Mesmo processo de Degradação descontrolada e irresponsável do Bioma , e agora em plena época de Aquecimevto Global , secas históricas , e falta de Gestão dos Órgãos Ambientais , como Ibama erc , que sofrem com poiycid recursos humanos e de equipamentos , vem um banco de safados , de olho 👀 no que está ainda relativamente preservado , é que sim produz , muito açaí , peixes , cacau , cupuaçu , café e outras culturas nativas , vem novamente querer abrir estradas no coração da floresta 🌳, onde ao contrário deveriam dinamitar toda essa estrada , acabar com os ramais , e colocar bases de fiscalização tanto do Ibama como da PF nas entradas e saídas dessa região , para barrar de uma vez por todas , a ganância de setores que não estão preocupados com. “ tubos de oxigênio ou combustível ⛽️, pois estes há outras estradas 🛣️ via Para , via MT que suprem a demanda , tubos de oxigênio se legal de avião cargueiro muito mais facilmente e sem riscos , portanto é uma desculpa esfarrapada sem nexo algum !!! , oque não pode , e acabar com os rios ,secar os igarapés , que são e sempre foram as melhores estradas 🛣️ da Amazônia Brasileira , se colocam estradas , o desmatamento logicamente vai perder ainda mais o controle , um completo contra -senso , a maioria da sociedade brasileira Não quer essa estrada , porém os corruptos , grileirosx, madeireiros ilegais , estão sim preocupados pois sem estrada não conseguem roubar mais oque e dos indígenas , e do povo brasileiro como nação , e não de uns poucos interessados em enriquecer com obras tipo Belo Monte , que foi e é um elefante branco e fracassado , acabou com os peixes na região mais pesqueira do Xingú , acabou com a regra de milhares e da alimentação saudável do pescado , querem impor a carne 🥩 vermelha do gado 🐮 na Amazônia , que tem aptidão muito maior para ampliar a criação de peixes 🐠🐟, de várias espécies comerciais , o País perde bilhões pela falta de competência de planejamento e controle pesqueiro na Amazônia. ,querem represar todos os rios magníficos , para causar impactos gigantescos com represas que não tem nexo em fornecer energia. , estamos na era da energia fotovoltaica e a Amazônia está na linha do Equador , o mais simplório estudante de geografia sabe que lá o Sol 🌞 tem alta incidência , não precisamos de combustíveis e sim de veículos elétricos e geração de Energia fotovoltaica na Amazônia , é miserável uma ideia 💡 tão idiota de que uma estrada 🛣️ numa região salpicada por parques nacionais e reservas indígenas , vá trazer benefícios ,as terras ali na maioria já estão destinadas. Porém a estrada 🛣️ traz problemas de invasão e conflitos com os atuais habitantes , a etapa seguinte vai ser aquela em que ejes questionarao a demarcação de terras de parques e resevas , e a fiscalização Não terá orçamento , como já Não tem !! Quem afinal de contas vai acreditar numa mentira deslavada dessas de transporte de produtos ??? Larguem não dessa porcaria de obra , cara 💰 , sem objetivo a não ser trazer mais gasto com fiscalização e mais roubo de terrras que são da União e muitas são reservas já demarcadas , além de não ser o objetivo para transporte , já que o transporte rodoviário , é muito mais caro , gera atrasos maiores ainda que o transporte fluvial ⛴️🚢, o qual a região já está adaptada !!! Essa obra só bem a escancarar que Deputados e setores obscuros , querem novamente dilapidar a Amazônia é deixar um rastro de desmatamento nessa região ainda resguardada por não ter estradas boas !! Essa estrada 🛣️ seria um vetor de morte ☠️ apenas , nunca 👎 vai servir pra melhorar o controle de desmatamento , pelo contrário .


  2. José Siqueira Costa diz:

    Alguém aí sabe me dizer pra que o Brasil quer a amazônia?


  3. José Freitas de Vasconcelos Neto diz:

    Quem não conhece o sufoco, nem a Amazônia, emitindo opiniões de modo remoto, pauta o desmatamento, como se fosse o bicho papão do mundo. Acredite na ciência sem lastro e viva no isolamento. Convido-os para morar ermitamente por 1 ano apenas a fim de opinar sobre o assunto.


  4. Paulo Vieira diz:

    É uma grande falácia ambientalista, o desmatamento da BR 319, em seu trecho do meio. Já percorri 3 vezes essa BR nos últimos 4 anos e não há desmatamento e nem vicinais abertas. A BR 319 tem seu meião preservado, não pela estrada sem asfalto, mas pela própria natureza, visto que o solo pobre e impróprio para a agricultura desestimula qualquer atividade produtiva, pois até para o plantio do capim para o gado precisaria haver fertilização do solo, inviabilizando atividades agropecuárias. O argumento da exploração de madeira também não se sustenta por causa dos solos alagados predominantes na região. Portanto, o motivo dessas campanhas contra a BR 319 é outro bem conhecido de todos que ficamos isolados com a falta da rodovia pavimentada.


  5. José Dias Bezerra diz:

    Manaus precisa sair do isolamento.O afastamento deve ser feito com medidas para preservar a fauna, a flora e os recursos hídricos.


    1. Carlos A Batista diz:

      Se o problema é o desmatamento, combata-o com uma fiscalização eficaz! Deixar Manaus isolado do resto do país por esse motivo, é o mesmo que prender toda a população em suas casas, porque há criminosos nas ruas.