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Sete bugios são soltos para reforçar população no Parque Nacional da Tijuca

Após nove meses em um recinto de aclimatação na floresta, os macacos puderam enfim retornar à vida na floresta onde já vivem outros oito bugios-ruivos

Duda Menegassi ·
8 de janeiro de 2024

Ano novo, vida nova. A expressão não poderia ser mais verdadeira para o grupo de sete bugios que no último ano teve sua vida limitada pelas paredes de um recinto e que, logo no segundo dia de 2024, ganhou a liberdade e a floresta. Os bugios estavam desde abril em um recinto de aclimatação dentro do Parque Nacional da Tijuca, no Rio de Janeiro. A soltura, que ocorreu na última terça-feira (2), consagra a retomada do esforço, coordenado pelo Refauna, de trazer de volta este primata para a floresta carioca. Os novos moradores da Tijuca se somam com um grupo de oito bugios – também fruto das reintroduções do projeto – numa iniciativa que aos poucos preenche o silêncio e vazio da floresta com seus habitantes originais.

Os bugios-ruivos (Alouatta guariba) são primatas nativos da Mata Atlântica, com uma distribuição que vai da Bahia até o Rio Grande do Sul e se estende até a Argentina – onde a situação da espécie é particularmente crítica. Historicamente ameaçada pela destruição da Mata Atlântica na costa brasileira, a espécie havia desaparecido das florestas cariocas há mais de um século.

O grupo recém-solto é formado por sete indivíduos. Dois adultos – um macho e uma fêmea – com origem e experiência de vida livre, e outros cinco filhotes nascidos em cativeiro no Centro de Primatologia do Estado do Rio de Janeiro (CPRJ), onde estavam os animais. Por estarem presos, foram todos vacinados contra a febre amarela, doença letal para estes macacos.

A soltura foi bem-sucedida e, aos poucos, os bugios se acostumam com a liberdade da floresta. “Todos saíram do interior do recinto em poucos minutos, como esperado. Foi tudo bem, mas alguns indivíduos ainda não foram para as árvores, estão ficando no teto do recinto”, conta o coordenador da Reintrodução de Bugios-Ruivos na Floresta da Tijuca do Refauna, Matheus Travassos.

De acordo com o biólogo, os meses de aclimatação são importantes para que os bugios se acostumem com o ambiente da floresta e aprendam a conhecer as árvores próximas, os sons e cheiros. “Isso suaviza o processo e diminui o impacto do lugar novo”, explica o coordenador. Além disso, foi feito um trabalho de introdução de plantas nativas na dieta dos animais, para já ensiná-los que alimentos eles devem buscar depois de soltos. 

A hora certa de abrir o recinto é definida pelo momento em que o comportamento dos bugios está estabilizado, dentro do padrão para espécie, sem estresse ou medo, e quando eles já tiverem sido apresentados a uma quantidade considerável de plantas nativas. Com todos os requisitos cumpridos, foi dado sinal verde para a soltura.

O trabalho dos pesquisadores, entretanto, continua com o monitoramento, que será diário durante este primeiro mês em liberdade. Como os animais não possuem nenhum dispositivo de rádiotelemetria – o que ajudaria a encontrá-los na floresta – a equipe do Refauna está se revezando para não perdê-los de vista. Todo dia, até o começo de fevereiro, os pesquisadores os acompanham do nascer do sol, quando os macacos começam a sua atividade, até o poente, quando eles se recolhem numa árvore para dormir.

A esse primeiro mês intenso ao lado dos bugios, o monitoramento passará a ser mais esporádico, “umas duas vezes por semana”, conta Matheus. 

Com a soltura dos sete bugios-ruivos, chega a 15 o número de bugios no Parque Nacional da Tijuca (RJ). Foto: Marcelo Rheingantz/Refauna

A reintrodução dos bugios no Parque Nacional da Tijuca é um trabalho que começou em 2015, quando o Refauna fez a primeira soltura dos macacos na floresta. A iniciativa, entretanto, precisou ser paralisada nos anos seguintes, diante do surto de febre amarela que atingiu a região sudeste. 

Uma das grandes expectativas dos pesquisadores é ver a interação entre os animais recém-libertos e o grupo de bugios que já vive na floresta. “Ouvimos a vocalização do outro grupo ontem e hoje. Acredito que em breve deve rolar [a interação]”, torce o coordenador.

  • Duda Menegassi

    Jornalista ambiental especializada em unidades de conservação, montanhismo e divulgação científica.

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Comentários 3

  1. Paulo Filizola diz:

    Belo trabalho de reintrodução, temos na serra da Ibiapaba no Ceará um grupo de bugios que está a beira da extinção infelizmente o poder público não faz nada a mata atlântica está sendo suprimida por loteamentos urbanos, os bichos estão sendo atropelados e caçados.


  2. Vania Davanzo diz:

    Magnífica a iniciativa!! Agradeço a oportunidade de tomar conhecimento deste trabalho. Parabéns!!


    1. Sonia diz:

      Boa noite !!!aqui em Mage no sexto destrito Fragoso tem vários soltos as pessoas invadindo a área ambiental precisam de socorro tem um maior que estava andando pulando nas casas e ouvi dizer que tem vários filhotes por favor socorre procurem saber