Reportagens

Ilha de natureza

Criado antes da Segunda Guerra, o Parque Nacional do Iguaçu oferece atrações naturais que não se esgotam nas quedas de água que formam as suas famosas cataratas.

Carolina Elia ·
1 de abril de 2005 · 19 anos atrás


Visto de cima, de baixo ou de frente, o paredão de água impressiona mesmo quem pensa que já o conhece por foto. Só se sabe o impacto de ver uma massa d’água vindo abaixo quando se testemunha o fenômeno de perto. O difícil é sair seco da experiência. Isso só é possível se ela acontecer de dentro de um helicóptero. Quem caminha pelas passarelas que levam até as cataratas é borrifado por nuvens de gotículas de água, em pingos que vêm de todas as direções. Quem se aventura a vê-las de um barco sai encharcado.

O passeio de barco conhecido como Macuco Safari é o mais famoso do Parque Nacional do Iguaçu. Você paga 99 reais e sobe o Rio Iguaçu até a Garganta do Diabo, quando Deus permite. É porque nem sempre a embarcação consegue se aproximar deste intimidante salto. Quando o volume de água é muito grande, a recomendação é se divertir à distância. Como prêmio de consolação, os pilotos mergulham as lanchas em cascatas menores, mas que dão a dimensão do que é estar sob uma avalanche ininterrupta de água.


O lado argentino é conhecido como Parque Nacional Iguazu, criado em 1934, cinco anos antes do nosso. O primeiro brasileiro a pedir a preservação da região foi o engenheiro André Rebouças, que em 1876 a descreveu como “toda a gradação possível do belo ao sublime, do pitoresco ao assombroso”. Quarenta anos depois foi Alberto Santos Dumont que insistiu junto às autoridades para que fosse criado um parque capaz de proteger as cataratas.


O guia que melhor conhece a trilha é Ary Dathein, descendente de holandeses nascido numa colônia alemã em Dois Passos. Foi ele quem convenceu um casal de estrangeiros em lua-de-mel a estrearem o caminho. Ary parece um forasteiro. Tem o tipo físico dos europeus, um sotaque que não se distingue muito bem de onde vem e um jeito que não revela raízes. “Tenho sangue cigano”, explica. “Ainda jovem me mandei para a Amazônia, era sonho de criança”. Ele deve ter quase 60 anos, 22 deles passados dentro do Parque do Iguaçu.


Mas não é preciso se prender a histórias. A cada cinco minutos a trilha é cortada por borboletas das mais diversas cores. Estima-se que existam cerca de 800 espécies na região, mas até agora apenas 257 foram catalogadas. Há também 335 tipos de aves e uma variedade de serpentes e lagartos, incluindo cascavel, jararaca e coral verdadeira.

Há ainda os mamíferos, que são os mais raros de serem observados. Em alguns casos, o máximo que se vê são pegadas. Quando se trata de uma onça-pintada ou um puma, isso é suficiente para deixar muito turista ressabiado. Mas existem também veados, lontras, pacas, macacos e os populares quatis que, além de roubarem a comida de visitantes distraídos, de vez em quando os surpreendem com uma mordida. Foram 200 casos em cinco anos.


“Os turistas estrangeiros ficam preocupados se a forma como o parque está sendo explorado prejudica o meio ambiente”, comenta Ary ao embarcar o grupo que acabou de fazer a trilha em um barco que descerá o Rio Iguaçu até as ilhas da Taquara.


Também não há pressa. Quem quiser pode tomar banho nas águas do Iguaçu. A única exigência é que se use salva-vidas. O jeito então é boiar sobre o curso que segue disfarçadamente em direção às cataratas.


O sol se escondeu por trás da mata protegida do Iguaçu enquanto eu e os turistas alemães acompanhávamos a briga dos pássaros. Ao meu lado, um deles disparava incessantemente a máquina fotográfica que pesava para frente de tão grande que era a lente acoplada a ela. Sua satisfação era evidente. Pagara 225 reais, o preço do passeio da Linha Martins, para admirar o que significa natureza num país como o Brasil.

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