Reportagens

Meio ambiente no You Tube

Buscamos pela expressão “meio ambiente” no site de vídeos You Tube. O resultado pode não ser nenhum furo, mas rende momentos de boa diversão.

Eric Macedo ·
6 de setembro de 2006 · 18 anos atrás

Vídeos são a novidade do momento na internet. Com a expansão da banda larga, assistir imagens no computador deixou de ser um teste de paciência que podia levar horas, dias, semanas de download. Gravações pequenas já podem ser apreciadas quase sem espera alguma, o que fez com que o número de vídeos online explodisse de menos de dois anos para cá. E um dos grandes incentivadores dessa onda foi o You Tube. Um site criado em fevereiro de 2005 que permite ao internauta expor aquilo que filma (ou que tira de algum lugar, como um programa de TV) e ver os vídeos dos outros, tudo de graça. Já são 70 milhões os vídeos assistidos diariamente. Por curiosidade, a equipe de O Eco decidiu digitar a expressão “meio ambiente” no campo de busca do site, além do correspondente em inglês, “environment”, e ver o que encontrava.

O resultado, digamos, foi “biodiverso”. De testemunho de fé da ministra Marina Silva a propaganda política de candidato na eleição que se aproxima. No meio disso, coisas estranhas, como um avião explodindo numa tempestade de raios (cuja lição de moral é, inexplicavelmente, a frase “Proteja o meio ambiente”) e um caminhão de lixo neozelandês em ação. Tem entrevista do Secretário de Meio Ambiente do Rio (com todo o respeito, “puxando o saco” do prefeito César Maia), reportagem do Jornal Nacional, propagandas de todo o tipo. Enfim, o suficiente para deixar este repórter imerso por horas a fio, viajando de vídeo a vídeo, na semana em que se dedicou a escrever este texto. Uma semana de luta contra a tentação de clicar em coisas que nada tem a ver com meio ambiente, mas cujo apelo é irresistível (sabe o que acontece quando se jogam balas de menta numa garrafa de diet Coke? Pois é, impossível não conferir).

No conteúdo em inglês, algumas entrevistas e pequenos documentários podem ser bastante instrutivos. Mas viajar no site atrás de conteúdo “sério” não é a melhor estratégia. A graça do You Tube está justamente nas coisas sem muita causa. Voltando, então, ao lado cômico, encontramos uma série de programas em que duas jovens de Los Angeles, na Califórnia, se dedicam a vivenciar pequenas ações de ajuda na proteção do meio ambiente. Nada muito complexo: andar de ônibus e metrô ao invés de carro – coisa que as patricinhas de Bevery Hills fazem pela primeira vez em frente à câmera, usar produtos de limpeza que não agridem a natureza….Enfim, como elas mesmas reconhecem: “salvando o meio ambiente, com um passo de cada vez”. Também pipocam aqui e ali referências hilárias ao ex-vice presidente norte-americano Al Gore e sua fixação pelo aquecimento global. Uma delas inclui uma conta fictícia de quanto carbono o ativista tem liberado em sua peregrinação pelo mundo para espalhar a mensagem do caos iminente. O quase presidente dos EUA pergunta em seu livro: “Você está disposto a mudar o seu modo de vida?” Bem, será que Gore está? O vídeo deseja a ele boa sorte em sua vida de baixos teores carbônicos.

Do lado brasileiro, uma série de conversas do jornalista Sidney Rezende com personalidades do país domina o resultado da busca. Elas eram parte de um projeto do fim dos anos 80, “Baleia Verde”, em que questões ambientais foram discutidas com figurões como Tom Jobim, Arnaldo Jabor e… bem, Beth Carvalho. A pesquisa também esbarrou em outra peça conhecida, mas mais interada de assuntos ecológicos – o deputado federal Fernando Gabeira (PV), que apresenta dois documentários sobre ecologia filmados no longínquo ano de 1985. Um sobre lixo atômico em Itu (SP), em que o ambientalista denunciava urânio enterrado próximo ao córrego que fornece água para a cidade. E outro sobre poluição na Baía de Guanabara, o lixo de todo o tipo que se acumulava no seu fundo, a ameaça os mangues e as dificuldades porque passavam pescadores. Depois de vinte anos, uma Eco 92 e um programa de despoluição, o problema continua em pauta. É até motivo de promessa do candidato a governador pelo PT, Vladimir Palmeira.

O bombeiro

Mas nada do que foi citado até agora supera os vídeos de um bombeiro carioca. Se houvesse um prêmio O Eco de melhor coisa do You Tube ambiental brasileiro ele certamente ficaria com Marcos Gohan, um jovem herói que se dispôs a dividir conosco em vídeo sua jornada de trabalho na função de proteger a nossa natureza.

Em seu melhor momento em frente às câmeras, o bombeiro segura pelas costas uma preguiça, que parece aflita. O bicho se contorce freneticamente – tanto quanto é capaz em se tratando de sua limitada capacidade de movimentação. “Essa aqui é mais uma preguiça que foi resgatada pelo Grupamento de Socorro Florestal e Meio Ambiente. Ela viu já a floresta, está doida para voltar. Vamos fazer agora a atividade de reintrodução dessa espécie, que está ameaçada de extinção, ao meio ambiente”, explica Gohan aos espectadores. Visivelmente desconfiada, a preguiça crava as garras na primeira árvore que aparece, se antecipando às intenções do bombeiro de deixá-la o mais fundo possível na floresta. “Deixa, que ela vai embora sozinha!”, grita alguém, de trás da câmera. Nosso capitão planeta se dá por satisfeito. O bicho se move até uma posição confortável e, como é típico de sua espécie, pára, imóvel, posando para o público.

Mas não é só de preguiças salvas que Gohan faz a sua fama. Ele também registrou em vídeo um sobrevôo a focos de incêndio florestal no Parque Nacional da Tijuca. A bordo de um helicóptero, confessa estar sentindo um certo medo. Mas o observador atento consegue ver um quê de total apavoramento. De áreas queimadas mesmo, pouco se nota. Talvez um pouquinho, lá no fundo. O braço paralisado do rapaz não se desvia muito de seu próprio rosto preocupado. Em outro momento, numa gravação que realizou a caminho de um incêndio numa favela carioca, nosso herói revela seu principal lema: o combate à soltura de balões, uma das principais causas do fogo que se alastrou com força nos últimos meses pelas matas fluminenses. “Até quando o homem vai continuar soltando balões, fazendo queimadas, destruindo a floresta? Espero que isso acabe”, professa ele, pendurado na parte de traz de um carro da corporação, com sirene gritando ao fundo.

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