Reportagens

Um parque em ampliação

O Parque Nacional da Serra dos Órgãos, no Rio de Janeiro, deve ganhar mais 8 mil hectares nos próximos meses. A medida ajudará a conter a ocupação desordenada de seu entorno.

Juliana Fernandes ·
20 de março de 2007 · 17 anos atrás

Foi dada a partida para a ampliação do Parque Nacional da Serra dos Órgãos, na região serrana do Rio. Às 19 horas da noite desta terça-feira começa a primeira de quatro audiências públicas que embasarão a decisão de ampliar a unidade de conservação em 8 mil hectares. O Ibama, responsável pela área, tem pressa – quer que o presidente Lula decrete os novos limites do parque até 5 de junho, dia do Meio Ambiente.

O projeto de ampliação foi elaborado pelo Instituto Terra Nova e a Cooperativa Estruturar Meio Ambiente, com verba do Ministério. O estudo durou um ano e custou 70 mil reais. “Esperamos que essa ampliação seja aprovada num curto espaço de tempo. Será um grande passo para a preservação da biodiversidade existente na região”, disse o chefe do Parque, Ernesto Viveiros de Castro. Serra dos Órgãos foi o terceiro parque nacional criado no Brasil (1939) e se estende por quatro municípios, cuja população total é de cerca de 700 mil habitantes. Petrópolis, com cerca de 300 mil habitantes, e Teresópolis, com cerca de 170 mil, já têm suas áreas urbanas ocupando o entorno imediato da unidade de conservação.

Segundo os pesquisadores, a maior parte da área a ser integrada é formada por floresta primária ou em estado avançado de regeneração e afloramentos rochosos. Quatro mil hectares virão do município de Magé e outros 3 mil de Petrópolis. Por isso, as audiências foram marcadas nessas localidades. Também há terras a serem incorporadas de Guapimirim e Teresópolis. “Estamos mantendo o diálogo com as comunidades. A maior pressão está na área de Santo Aleixo e Piabetá, em Magé, onde há uma maior ocupação humana. Ainda assim, a proposta tem sido bem aceita. Já conversamos com proprietários de algumas terras que concordaram com a necessidade de preservação e mostraram-se abertos à negociação”, informou o coordenador de geoprocessamento do projeto, o biólogo Bruno Coutinho, que faz parte da Cooperativa Estruturar.

Segundo Viveiros de Castro, o estudo já previu a exclusão de terras atualmente ocupadas por edificações. Isso pode facilitar e acelerar a aprovação do projeto. “A proposta está bem fundamentada e a consulta pública tem o objetivo de minimizar conflitos potenciais com moradores do entorno. Neste processo, já negociamos com alguns proprietários, fazendo pequenas alterações que reduziam a área incorporada em determinado trecho e aumentavam em outro, evitando conflitos desnecessários”, explicou.

A julgar pelas palavras de moradores próximos ao Alcobaça e ao Jacó, ambas localidades de Petrópolis que deverão ser anexadas ao Parque, o projeto já está aprovado. “A incorporação dessa área representa a concretização de um desejo antigo da comunidade. Sempre lutamos pela preservação dessa região”, comentou a vice-presidente da Associação de Defesa dos Mananciais do Alcobaça, a bióloga e farmacêutica Roseane Borsato Costa, lembrando que o abastecimento de água das comunidades depende de mananciais localizados na floresta. “Sabemos que não adianta criar ilhas de vegetação. É preciso colaborar para a criação de um corredor ecológico capaz de propiciar a manutenção da biodiversidade”.

A agricultora da região Joselina de Jesus Carreiro da Silva também concorda com a necessidade de preservação da mata. ” Se nos derem garantias de que poderemos continuar trabalhando, vamos apoiar o projeto, sim. Se quiserem preservar o que não usamos, tudo bem. Acho ótimo. Aqui já sabemos que não devemos avançar mais”, disse.

Atualmente o parque tem 10.653 hectares. A região protege 264 espécies de aves, 58 de mamíferos e um grande número de espécies endêmicas (que só ocorrem nesta região). É uma das áreas com maior diversidade de anfíbios registrada no mundo e tem ocorrência de quase 16% de todas as espécies de vertebrados terrestres brasileiros. Entre os animais mais raros encontrados na região está o muriqui-do-sul ou mono-carvoeiro, considerado o maior primata das Américas e que até pouco tempo era considerado extinto no estado do Rio de Janeiro. O animal está listado entre os 25 primatas mais ameaçados da Terra. Os pesquisadores envolvidos no projeto acreditam que a ampliação do corredor ecológico permitirá a localização e a preservação de animais como a onça-pintada e a anta.

Áreas a serem incorporadas ao Parque Nacional da Serra dos Órgãos:

Vale do Jacó: áreas da antiga Fazenda do Jacó, passando pelo vale do córrego do Bento até o morro do Mata Porcos. Cerca de 90% desta área são cobertos por florestas em estágio médio e avançado de sucessão e afloramentos rochosos.

Floresta do Alcobaça: encostas da Pedra da Mãe d’Água e do Pico do Alcobaça até a área conhecida como Reserva Ecológica do Alcobaça. Cerca de 85% desta área são cobertos por florestas em estágio médio e avançado de sucessão, vegetação rupestre e afloramentos rochosos.

Serra da Estrela / Itacolomi: áreas das bacias dos rios Itacolomi, da Cachoeira e Piabetá e nascentes do Córrego do Caxambú e rio Palatinato. Inclui também os picos Torres de Morin, Alto da Cabeça de Negro, Morro da Cabeça do Frade, Itacolomi e Pedra Bonita. Em Santo Aleixo estão inseridas áreas das bacias dos rios Pedras Negras e Itacolomi. Cerca de 95% desta área são cobertos por florestas em estágio médio e avançado de sucessão, vegetação rupestre e afloramentos rochosos.

Monte Olivete: áreas do médio curso do rio Bananal. Cerca de 95% desta área são cobertos por florestas em estágio médio e avançado de sucessão, vegetação rupestre e afloramentos rochosos.

Alto Soberbo: Área próxima ao Mirante do Soberbo e coberta por florestas em estágio inicial e avançado de sucessão.

* Juliana Fernandes é a jornalista responsável pela editoria de Economia do jornal Tribuna de Petrópolis.

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