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Carnívoros do Iguaçu: pesquisa ajuda a entender saúde da fauna

A veterinária Marcela Moraes coleta sangue, fezes, pelos, urina e carrapatos, material que permite estudar doenças e compor banco genômico.

Adriano Gambarini ·
10 de março de 2015 · 9 anos atrás
Marcela Moraes, veterinária. Foto: Adriano Gambarini
Marcela Moraes, veterinária. Foto: Adriano Gambarini

Madrugada adentro e ainda sem nenhum sucesso na captura. Na realidade, isto é uma situação muito comum numa campanha de estudos de onças-pintadas, principalmente em se tratando de Mata Atlântica. No próximo post quero mostrar qual é a probabilidade de capturar uma onça aqui no Parque Nacional do Iguaçu. Para mim, como fotógrafo, o insucesso tem o mesmo valor, como experiência de vida, quanto o sucesso.

Umas das ações do Projeto Carnívoros do Iguaçu é o enfoque à saúde dos animais silvestres. Durante o processo de captura, a veterinária Marcela Moraes coleta sangue, fezes, pelos, urina e ectoparasitas (carrapatos). Com este material é possível realizar um série de análises, tais como hemograma do animal e pesquisas sorológicas, com foco nas doenças parasitárias e virais. Uma parcela do sangue é destinado ao Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Mamíferos Carnívoros para compor o banco genômico, assim com os pelos coletados também servem para análise genética.

As fezes são usadas em outras abordagens de estudos parasitológicos e para identificar os hábitos alimentares dos animais capturados, a chamada ecologia trófica.

No caso dos estudos de parasitas, Marcela prioriza o grupo dos helmintos que são encontrados em diversos órgãos, objetivo principal de sua dissertação de mestrado. “Ninguém dá muito valor aos vermes, mas podemos dizer que os parasitas são como pinturas rupestres, eles ‘contam’ a história ao longo do tempo”, diz esta veterinária nascida em Garanhuns, Pernambuco. “Analisando os vermes, dá para saber se os animais silvestres residentes dentro da área protegida tiveram algum contato, mesmo em tempos regressos, com animais domésticos. E avaliar, de acordo com sua saúde, como estes animais estão se adequando a estes parasitas ‘introduzidos’.

Um animal silvestre pode ser hospedeiro de um tipo de parasita sem que haja manifestação da doença. Entretanto, qualquer alteração ambiental que submeta uma população silvestre a algum tipo de stress, como diminuição de área de vida, disponibilidade alimentar e contato com animais domésticos, pode trazer um desequilíbrio na relação parasita-hospedeiro, gerando algum tipo de doença.

Tendo estas informações prévias sobre a existência de parasitas nos animais, num caso inesperado de mortandade, é possível fazer associação daquela ocorrência com alguma alteração ambiental, e assim buscar estratégias para evitar novos surtos. Marcela já encontrou parasitas até então estritos a animais domésticos, em quatis, cachorro-do-mato e jaguatirica.
Infelizmente, muitos bichos são atropelados, dentro e fora do parque. Todos os animais encontrados nas estradas são coletados e processados pela equipe do projeto, para necropsia e coleta de material.

Por fim, um dos focos de trabalho de Marcela é comparar a saúde dos quatis que transitam nas áreas turísticas com grupos encontrados nas bordas do parque. O objetivo é avaliar se os quatis que têm contato com animais domésticos de fora do parque são hospedeiros de algum parasita não encontrado nos animais restritos à área protegida.

 

 

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  • Adriano Gambarini

    É geólogo de formação, com especialização em Espeleologia. É fotografo profissional desde 92 e autor de 14 livros fotográfico...

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