Reportagens

Projeto Iauaretê: história, sucessos e o conflito homem-onça

Nome significa onça-verdadeira e foi escolhido para o projeto que tenta elucidar os comportamentos deste felino na região Amazônica.

Adriano Gambarini ·
12 de maio de 2015 · 9 anos atrás

Onça “Confuso”, capturada 2013. Foto: Brandi Jo Petronio
Onça “Confuso”, capturada 2013. Foto: Brandi Jo Petronio

Iauaretê significa onça verdadeira em tupi-guarani. Não poderia ter sido outro senão este o nome da iniciativa que valoriza o maior felino das Américas e sua relação com o homem. Hoje, o projeto Iauaretê é uma das mais importantes pesquisas de longo prazo com onça-pintada no Brasil, principalmente por ocorrer na região amazônica, onde pouco se sabe sobre a ecologia e comportamento da espécie.

Outros estudos foram feitos no país, mas nos biomas Cerrado, Pantanal e Mata Atlântica. Emiliano Esterci Ramalho chegou a Mamirauá em 2004 para realizar sua dissertação de mestrado e tese de doutorado. Em 2007, iniciou o Projeto Iauaretê, cuja primeira captura ocorreu no ano seguinte. Apesar das dificuldades, o sucesso cresce a cada ano. Até agora foram capturadas 17 onças-pintadas, entre machos, fêmeas, incluindo as melânicas (de cor preta).

Este trabalho proporciona respostas para as quatro vertentes de perguntas feitas pelo Projeto. Os pesquisadores querem entender a dinâmica populacional da espécie na região da Reserva Mamirauá; como está o seu status de conservação; a estimativa da população de onças que vive ou transita na área; e como esta população cresce ou cai em número ao longo do tempo.

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Além disso, querem conhecer mais sobre como o nível da água – que oscila mais de 10 metros por ano – influência a movimentação dos animais. Para isto, usaram inicialmente a teoria da segregação sexual, comum nos estudos de cervídeos. Esta teoria especifica que as fêmeas priorizam a sobrevivência dos filhotes, enquanto os machos tendem a priorizar a própria sobrevivência para se manterem saudáveis no período reprodutivo. Assim, na época das cheias os machos sairiam da área em busca de alimento, enquanto as fêmeas ficariam com seus filhotes. Afinal, não é tão simples cruzar um rio com as dimensões do Solimões carregando uma ou duas crias.

Contudo, nenhum dos últimos animais capturados e marcados pelos pesquisadores (quatro machos e quatro fêmeas) saíram de suas respectivas áreas, e a única mudança de comportamento evidente por conta do ciclo da inundação foi que os animais ficam a maior parte do tempo em cima das árvores, durante 3 a 4 meses. Este comportamento nunca havia sido descrito para felinos de grande porte.

Outra vertente de perguntas feitas pela equipe trata da parte epidemiológica: as doenças que afetam as onças e se elas são suscetíveis a contraírem doenças de animais domésticos.

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Por fim, o projeto busca entender as dimensões humanas (ou a relação das onças com o homem). Não é de hoje que existe um conflito consolidado do homem com este predador. Seja por necessidade ou pelo desafio. Numa região como Mamirauá, onde há no mínimo 10 mil pessoas morando em centenas de pequenas comunidades, é um fato o ataque de onças a animais de criação ou domésticos. E a retaliação à onça também. Assim, os pesquisadores querem saber mais sobre este tipo de conflito e quais são os medo e mitos suscitados pela presença das onças, para saber como evita-los ou contorná-los.

Uma das posturas da equipe é aproximar os comunitários das atividades de pesquisa. Recentemente, um grupo de crianças e adultos acompanhou os procedimentos técnicos durante uma campanha de captura.

Por fim, o projeto Iauaretê tem testado um modelo de previsão, que gera uma estimativa sobre quais são as comunidades com maior probabilidade de sofrer um ataque de onças contras seus animais, para, assim, tomar providências de prevenção ao conflito. Pois nestes casos quem sai em desvantagem é a onça.

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  • Adriano Gambarini

    É geólogo de formação, com especialização em Espeleologia. É fotografo profissional desde 92 e autor de 14 livros fotográfico...

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