“Isso deve ser obra da esquerda, comunista, marronzista e baderneira”, diria Odorico Paraguçu, o político fictício que representou muito bem o tradicional modo brasileiro de seguir nas eleições na novela “O Bem Amado”, exibida em 1973, pela Rede Globo.
Em plena largada de campanha, Ricardo Salles, ex-ministro do Meio Ambiente e atual candidato a deputado federal pelo partido liberal (PL/SP), já encenou em Franca, no interior de São Paulo, uma cena digna de Sucupira, a cidade de Odorico.
Porém, ao ouvir palavras como “Ecocída” e “Você é uma vergonha para o país.”, o ex-ministro, foi muito menos polido do que a ficção.
Desfazendo seu tradicional sorriso bem alinhado, Salles retrucou ao também candidato do PSOL, Guilherme Cortez, que busca uma cadeira na Assembleia Legislativa de São Paulo. “Bando de vagabundos, ladrões, idiotas e cretinos. Vai se catar”.
A troca de farpas aconteceu no sábado (20/8) durante o ápice do lançamento de uma campanha eleitoral, marcado pela prática (não muito ecológica) de distribuir santinhos.
De papeletas em mãos, segurando uma bandeira nacional e vestindo uma camiseta verde e amarela, Salles provou na pele que a política real é bem diferente da encenada sob a proteção dos gabinetes de Brasília, onde está acostumado a habitar em uma forma Nutella de politicar.
Para ser candidato raiz é preciso abraçar o povo, comer pastel de rua, beijar (as pobres) criancinhas e se expor a um eleitorado ansioso para viver o único período do ano no qual é possível dizer esculachos aos poderosos ao vivo.
Pelo tom da descompostura Salles também parece não ter entendido ainda o significado do termo “pedir votos”. Algo que pode lhe custar muito caro.
Com processos correndo na Justiça do Pará, por ser acusado de exportar madeira ilegal da Amazônia, o ex-ministro esqueceu-se que não pode se dar ao luxo de perder essas eleições e ficar sem o cobiçado “foro privilegiado”.
Como diria Odorico, “vamos dar uma salva de palmas a esta figura trepidante e dinamitosa.”
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