Após quatro anos de uma política ambiental desastrosa para o país conduzida pelo governo Jair Bolsonaro (PL), com a Amazônia sendo o bioma mais afetado, lideranças ambientais e indígenas da região se preparam para a Semana Chico Mendes edição 2022, o último do capitão reformado na cadeira de presidente.
O evento acontece num dos mais importantes momentos políticos do Brasil, por conta da transição de governo, Após um pleito eleitoral acirrado, o petista Luiz Inácio Lula da Silva retorna ao Palácio do Planalto prometendo colocar a questão ambiental e amazônica como prioridades de sua terceira gestão como presidente.
Lula, aliás, foi amigo de Chico Mendes nas lutas de resistência do líder seringueiro na resistência contra a devastação da Amazônia promovida pela ditadura militar (1964-1985).
Mesmo com o governo do Acre – e a maioria dos estados da Amazônia Legal – dominado pelos setores ligados a uma agenda antiambiental e associados aos interesses locais do agronegócio – a saída de Jair Bolsonaro da Presidência da República já é vista como a grande esperança para a reconstrução da agenda ambiental.
Nos últimos quatro anos, a Reserva Extrativista (Resex) Chico Mendes esteve entre as unidades de conservação da Amazônia mais impactadas pela agenda de desmonte da política bolsonarista para o meio ambiente. A desestruturação dos órgãos de fiscalização, em especial do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), contribuiu para que nem mesmo as áreas protegidas da região ficassem livres da estratégia de deixar a “boiada passar”.
As pressões políticas locais agravaram a situação. A apresentação do Projeto de Lei 6024, pela deputada federal Mara Rocha (MDB-AC), que prevê a desafetação de áreas da Resex Chico Mendes, é definida como o gatilho para acelerar o processo de devastação da UC. A grilagem por meio da comercialização de lotes dentro da reserva é o principal indutor para o aumento do desmatamento e das queimadas, além das pressões exercidas pelas fazendas de gado no entorno.
De pouco mais de 21 km2 de floresta desmatada em 2018, segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), a Resex Chico Mendes perdeu, em 2019, 75,97 km2 de sua cobertura florestal. Nos quatro anos de governo Jair Bolsonaro, o desmatamento dentro da unidade de conservação federal alcançou uma área de 305 km2. Os dados consolidados sobre 2022 são apresentados pelo Inpe apenas no início do próximo ano.
Além do PL 6024, o assédio aos servidores do ICMBio que persistiram em fazer o trabalho de proteção da reserva marcou o quadriênio. No período, várias foram as trocas de chefia da UC após os principais moradores iautuados pelo instituto “pedirem suas cabeças” junto aos parlamentares federais ligados ao bolsonarismo.
Esse tipo de comportamento, por sinal, ocorreu com frequência entre todos os servidores federais da área ambiental. Muitas foram as denúncias de assédio e perseguições a funcionário do ICMBio e Ibama que eram “denunciados” às presidências dos dois órgãos por não se omitirem em suas funções.
Com a posse de Lula, a tendência é de todo esse cenário mudar, com os órgãos ambientais retomando sua autonomia para as operações de combate aos crimes ambientais. E é em meio a essa retomada da normalidade institucional do país que a Semana Chico Mendes será realizada entre 15 a 22 de dezembro em Rio Branco e Xapuri. As datas marcam os dias de nascimento (15) e assassinato (22) ddo líder seringueiro acreano.
Foi graças à sua luta em defesa da manutenção da floresta em pé, resistindo à destruição da Amazônia com o avanço da agropecuária na região entre as décadas de 1970 e 80, que se iniciaram os debates sobre a criação e os modelos de reservas extrativistas. A que leva seu nome tem quase um milhão de hectares, e é uma das últimas áreas de floresta no sudeste do Acre, sendo bastante pressionada, novamente, pelo avanço do agronegócio.
Leia também
Após 25 anos sem Chico Mendes, Acre troca borracha por boi
Pecuária e extração de madeira disparam e Estado se afasta cada vez mais do modelo de desenvolvimento sustentável sonhado pelo sindicalista. →
“Lembre da Amazônia ao apertar confirma”, convoca movimento no Acre
Jovens enfrentam desafios pelo voto verde em um dos estados mais bolsonaristas do país; em 2018, Bolsonaro teve 77% dos votos no Acre, e segue à frente de Lula →
Após gestão desmatadora, governador do Acre defende compromisso com meio ambiente
Reeleito para mais 4 anos, Gladson Cameli diz que é possível fomentar agronegócio sem desmatar; dados mostram que desmatamento é recorde desde sua chegada ao governo →