Reportagens

Em meio a mudanças políticas e avanço do desmatamento, Semana Chico Mendes acontece no Acre

Os últimos 4 anos se consolidaram como os mais devastadores para a reserva extrativista idealizada por líder seringueiro; posse de Lula pode conter avanço da pecuária e grilagem

Fabio Pontes ·
14 de dezembro de 2022 · 2 anos atrás

Após quatro anos de uma política ambiental desastrosa para o país conduzida pelo governo Jair Bolsonaro (PL), com a Amazônia sendo o bioma mais afetado, lideranças ambientais e indígenas da região se preparam para a Semana Chico Mendes edição 2022, o último do capitão reformado na cadeira de presidente.  

O evento acontece num dos mais importantes momentos políticos do Brasil, por conta da transição de governo, Após um pleito eleitoral acirrado,  o petista Luiz Inácio Lula da Silva retorna ao Palácio do Planalto prometendo colocar a questão ambiental e amazônica como prioridades de sua terceira gestão como presidente. 

Lula, aliás, foi amigo de Chico Mendes nas lutas de resistência do líder seringueiro na resistência contra a devastação  da Amazônia promovida pela ditadura militar (1964-1985). 

Mesmo com o governo do Acre – e a maioria dos estados da Amazônia Legal – dominado pelos setores ligados a uma agenda antiambiental e associados aos interesses  locais do agronegócio – a saída de Jair Bolsonaro da Presidência da República já é vista como a grande esperança para a reconstrução da agenda ambiental. 

Nos últimos quatro anos, a Reserva Extrativista (Resex) Chico Mendes esteve entre as unidades de conservação  da Amazônia mais impactadas pela agenda de desmonte da política bolsonarista para o meio ambiente. A desestruturação dos órgãos de fiscalização, em especial do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), contribuiu para que nem mesmo as áreas protegidas da região ficassem livres da estratégia de deixar a “boiada passar”. 

As pressões políticas locais agravaram a situação. A apresentação do Projeto de Lei 6024, pela deputada federal Mara Rocha (MDB-AC), que prevê a desafetação de áreas da Resex Chico Mendes, é definida como o gatilho para acelerar  o processo de devastação da UC. A grilagem por meio da comercialização de lotes dentro da reserva é o principal indutor para o aumento do desmatamento e das queimadas, além das pressões exercidas pelas fazendas de gado no entorno. 

De pouco mais de 21 km2 de floresta desmatada em 2018, segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), a Resex Chico Mendes perdeu, em 2019, 75,97 km2 de sua cobertura florestal.  Nos quatro anos de governo Jair Bolsonaro, o desmatamento dentro da unidade de conservação federal alcançou uma área de 305 km2. Os dados consolidados sobre 2022 são apresentados pelo Inpe apenas no início do próximo ano. 

Além do PL 6024, o assédio aos servidores do ICMBio que persistiram  em fazer o trabalho de proteção da reserva marcou o quadriênio. No período, várias foram as trocas de chefia da UC após os principais moradores iautuados  pelo instituto “pedirem suas cabeças” junto aos parlamentares federais ligados  ao  bolsonarismo. 

Esse tipo de  comportamento, por sinal, ocorreu com frequência entre todos os servidores federais da área ambiental. Muitas foram as denúncias de assédio e perseguições a funcionário do ICMBio e Ibama que eram “denunciados” às presidências dos dois órgãos  por não se omitirem em suas funções. 

Com a posse de Lula, a tendência é de todo esse cenário mudar, com os órgãos ambientais retomando sua autonomia para as operações de combate aos crimes ambientais. E é em meio a essa retomada da normalidade institucional do país que a Semana Chico Mendes será realizada entre 15 a 22 de dezembro em Rio Branco e Xapuri. As datas marcam os dias de nascimento (15) e assassinato (22) ddo líder seringueiro acreano. 

Chico Mendes. Foto: arquivo de família

Foi graças à sua luta em defesa da manutenção da floresta em  pé, resistindo à destruição da Amazônia com o avanço da agropecuária na região entre as décadas de 1970 e 80, que se iniciaram  os debates sobre a criação e os  modelos de reservas extrativistas. A que leva seu  nome tem quase um milhão de hectares, e é uma das últimas áreas de floresta no sudeste do Acre, sendo bastante pressionada, novamente, pelo avanço do agronegócio. 

  • Fabio Pontes

    Fabio Pontes é jornalista com atuação na Amazônia, especializado nas coberturas das questões que envolvem o bioma desde 2010.

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