Mais de 3.500 botos vão morrer na Amazônia brasileira durante este segundo semestre, antes de começar a moratória de cinco anos imposta pelo governo federal à pesca da piracatinga. Para capturar o peixe, que se alimenta de animais mortos, pescadores utilizam botos, um crime ambiental que vem sendo denunciado há anos pela Associação Amigos do Peixe-Boi da Amazônia (Ampa). Esta projeção é bem superior ao número estimado anteriormente, que indicava a morte de 2.500 botos por ano na região.
A estimativa foi feita pela bióloga Vera Silva, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, a partir de dados de pesca da Secretaria de Produção Rural do Amazonas (Sepror) e pesquisas com pescadores. Segundo dados apresentados pela Sepror, em 2011 foram capturadas aproximadamente 4.400 toneladas de piracatinga no Amazonas. Segundo estudos da equipe de Vera Silva, 39% desse total conseguido com a morte de botos.
Ainda de acordo com a pesquisadora, a maior parte desse pescado foi obtido no segundo semestre. “É quando os rios estão baixando e também, no final do ano, têm o defeso. Aí, os pescadores vão atrás da piracatinga”, afirma. De acordo com ela, estudos realizados em um frigorífico em Tefé, interior do Amazonas, indicaram que de 170 toneladas de piracatinga pescados durante um ano, 140 toneladas foram obtidas no segundo semestre.
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Para evitar esta catástrofe, a Ampa realiza a campanha Alerta Vermelho. A intenção é obter assinaturas para tentar antecipar a moratória da pesca da piracatinga no Brasil e também sensibilizar autoridades da Colômbia para o problema, já que boa parte do pescado dessa espécie é exportada para o país vizinho. Nesta quinta-feira, a Ampa pretende entregar um abaixo-assinado com 54 mil nomes à Comissão de Meio Ambiente da Assembléia Legislativa do Amazonas.
A entrega é também uma reação à mobilização que tenta evitar a moratória. O Conselho Estadual de Pesca e Aquicultura (Conepa) pede a revisão da Instrução Normativa que determinou a proibição da pesca da piracatinga por cinco anos, a partir de janeiro do ano que vem, e a reavaliação da área onde ela será proibida. Segundo os pescadores e empresários do segmento, a solução seria aumentar a fiscalização para evitar a morte dos botos.
Para a bióloga Vera Silva, fiscalizar não é suficiente. “A cada ano, a gente vê na região da Reserva de Desenvolvimento Sustentável de Mamirauá, a população de botos diminuir 7,5% por cento. Isso não é sustentável”, destaca. De acordo com Vera, o agravante é que os pescadores preferem botos jovens, que muitas vezes nem chegaram a idade reprodutiva. Um boto macho demora 10 anos para atingir a idade reprodutiva e a fêmea entre 6 e 7 anos. A gestação demora entre 11 e 13 meses, além disso, a mãe amamente o filhote por dois anos. “A morte de jovens que ainda nem se reproduziram tem um enorme impacto sobre a população”, afirma.
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