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Em defesa das savanas do Amapá

Governo do estado quer destinar praticamente toda região para a produção agrícola, apesar da enorme extensão de ambientes vulneráveis e da presença de populações tradicionais

Vandré Fonseca ·
25 de outubro de 2017 · 7 anos atrás
Novo zoneamento coloca em risco o Cerrado Amapaense. Foto: William DuMatu.
Novo zoneamento coloca em risco o Cerrado Amapaense. Foto: William DuMatu.

Manaus, AM — Ambientalistas e pesquisadores do Amapá se mobilizam para garantir a proteção de pelo 30% das savanas amazônicas que cobrem o estado. A paisagem é ameaçada por um zoneamento capenga do governo estadual, que destina praticamente toda a região à produção agrícola.

Apesar de ser o estado mais protegido da Amazônia, com 73% de seu território coberto por unidades de conservação e Terras Indígenas, o cerrado do Amapá foi esquecido. Com quase 207 mil quilômetros de extensão, abriga espécies ameaçadas e endêmicas, além de populações tradicionais, como quilombolas.

Em vez de seguir a lei e fazer um Zoneamento Ecológico-Econômico, seguindo as determinações do Ministério do Meio Ambiente, o governo do Amapá usou critérios bastante questionáveis para apresentar um Zoneamento Socioambiental do Cerrado (ZSC), que deixou de considerar o direito de comunidades tradicionais e a fragilidade de boa parte das terras da região.

“Queremos um zoneamento equilibrado“, defende o ecólogo Renato Richard Hilário, professor da Universidade Federal do Amapá (Unifap). “Quando você tem menos de 30% de ambiente remanescente, as espécies além de perder ambiente disponível passam a sofrer o isolamento das áreas fragmentadas. A partir daí você tem um aumento mais acentuado na extinção“, completa.

Além de reservar 40% das savanas para a produção de soja, o documento do governo do estado prevê o uso agrícola de terras reconhecidamente vulneráveis, que em estudos anteriores se espalhavam por metade de toda a extensão da savana amapaense. O documento, segundo explica Renato Hilário, recomenda o “uso controlado” em áreas de “complexidade ecológica ou elevada fragilidade ambiental”.

Savana do Amapá. Foto: William DuMatu.
Savana do Amapá. Foto: William DuMatu.

A tentativa de substituir o ZEE por esse documento foi barrada pelo Ministério Público Estadual, segundo Renato Hilário. Agora, o Amapá tem até o fim do ano para completar o zoneamento. Os estudos estão em andamento, enquanto pesquisadores buscam conhecer mais sobre esse ambiente.

Dois artigos foram publicados recentemente em revistas científicas, que descrevem a região e chamam a atenção para as ameaças sobre essas savanas.

Já foram descritas na região pelo menos duas espécies endêmicas de plantas e duas de peixe, o ornamental peixe-tetra Hyphessobrycon amapaensis e o Melanorivulus schuncki. Uma nova espécie de marsupial do gênero Cryptonanus, encontrada também na Guiana Francesa, aguarda a descrição oficial.

A região abriga também espécies ameaçadas como Tamanduá-bandeira (Myrmecophaga tridactyla), Tatu-canastra (Priodontes maximus), anta (Tapirus terrestris), queixada (Tayassu pecari), guariba-de-mãos-ruivas (Alouatta belzebul) e ariranha (Pteronura brasiliensis). Por lá, podem ser vistas também duas aves próximas a estarem ameaçadas, a cigarra do campo (Neothraupis fasciata) e maria-corruíra (Euscarthmus rufomarginatus).

Plantio de soja em área de savana. Foto: William DuMatu.
Plantio de soja em área de savana. Foto: William DuMatu.

 

Saiba Mais

The Fate of an Amazonian Savanna: Government Land-Use Planning Endangers Sustainable Development in Amapá, the Most Protected Brazilian State. Tropical Conservation Science 10. 

Biodiversity, threats and conservation challenges in the Cerrado of Amapá, an Amazonian savanna. Nature Conservation 22: 107-127.

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