Em 2004, ativistas da organização não-governamental Pessoas pelo Tratamento Ético de Animais (PETA, na sigla em inglês) criaram um vestido feito de verduras para promover uma campanha de substituição da carne pela comida vegetariana. Nada poderia ser menos apetitoso ou convincente que isso! Mulher vestida de alface não serve nem para prato nem para passarela. As organizações não-governamentais, definitivamente, precisam da assistência de profissionais de marketing para lançar ações mais incisivas no mercado.
São décadas de campanhas contra o sacrifício de animais para satisfazer a vaidade humana. São décadas de movimentos fracassados. Não considero qualquer tipo de proibição uma vitória. Muito pelo contrário. Se a solução é a proibição, certamente o proibitivo é latente e pode emergir a qualquer momento. No início dos anos 90, usar um casaco de pele legítima era um ato de coragem. Em nome da defesa dos animais, os ativistas atacavam pessoas com spray ou baldes de tinta. Os então chamados “conscientes” conseguiram levar o mercado de peles para o fundo do poço. No entanto, parece que a possível conscientização não passava de constrangimento diante da represália. Em 1998, estilistas como Gianni Versace e Giorgio Armani abusaram do uso de peles em suas coleções. Aqui no Brasil, principalmente no Sul, criadores comercializam e exportam peles de animais para a indústria da moda.
Segundo o conceituado jornal inglês The Independent, cerca de 400 estilistas usaram peles em suas coleções no ano passado, contra apenas um décimo desse número há 15 anos. Ainda segundo a publicação inglesa, as vendas de produtos deste tipo dispararam (aumento de 7% e US$ 9,9 bilhões de volume, segundo a Federação Internacional do Comércio de Peles; somente no Reino Unido, as vendas aumentaram 30% entre 2000 e 2001). A compradora típica é a mulher de 30 e poucos anos que “despreza o discurso da correção política”, classificou o jornal.
Humanos, apesar da PETA, continuam fascinados, alguns diriam obcecados, pelo material que envolve o corpo de outras criaturas que existem na face da Terra. Uma prova disso esteve em exposição em dezembro do ano passado, no Metropolitan Museum of Art. “Selvagem: a moda indomada” expôs pelo menos um século inteiro da ligação entre selvageria e moda. Não poderia ser considerada mais politicamente incorreta. Quem foi ou é gente de ponta no mundo da moda esteve lá – Roberto Cavalli (um amante da vida selvagem que patrocina a mostra), Christian Dior, Yves Saint Laurent, James Galanos, Jean Paul Gaultier, Karl Lagerfeld, Thierry Mugler, Zandra Rhodes, Arnold Scaasi, Elsa Schiaparelli, Valentino, Gianni e Donatella Versace.
Aliás, o próprio catálogo da exposição aponta que o ser humano, depois de passar um tempo contido em sua paixão por vestir o que vestem os bichos, voltou a soltar a franga e dar vazão ao seu desejo de pelo menos ficar parecido com onça, raposa, foca ou arara. Aparentemente, fantasiar-se de bicho deixou de ser um problema. Deve ser verdade. Ninguém apareceu para protestar contra a exposição. Aqui no Brasil, a PEA (Projeto Esperança Animal), numa óbvia tentativa de ficar parecido com a PETA, anunciou fazer um estardalhaço contra o uso de peles no São Paulo Fashion Week no início do ano. Brasileiro gosta é de fazer carnaval. Enquanto o Metropolitan, em Nova York, exibia a controvérsia com estilo, nossos ambientalistas tupiniquins resolvem esculhambar o maior evento de moda do país com atitudes estudantis.
Em 2002, ativistas da organização não-governamental Pessoas pelo Tratamento Ético de Animais (PETA, na sigla em inglês) interromperam um desfile de lingerie no qual Gisele Bündchen cobria-se com um casaco de pele. Os radicais protestaram contra a modelo brasileira com cartazes que diziam: “Gisele: Escória vestida de pele”. A coisa rendeu. Meter-se numa pele de bicho parecia crime ultrapassado, mais ou menos como o racismo. No entanto, por coincidência, usar cobertura de bicho – peles ou penas – como roupa ou enfeite está longe de ser algo que já era. Hoje, ser contrário ao uso de peles é visto como ultrapassado. Culpa por usar pele está fora de moda. Mas, já que a moda é volátil e mutante, é possível que no próximo ano roupas de pele voltem a ser cafona. A “boa” notícia é que as peles sintéticas cada vez mais se parecem com as peles reais.
Ativistas pró-animais deveriam relaxar um pouco e entender que o fascínio existe, que nem sempre ele é produto de devastações ambientais e que, mesmo quando é, produz algum tipo de prazer, ainda que seja tão somente estético – o que já é muita coisa.
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