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A raposa-do-campo (Lycalopex vetulus ou Pseudalopex vetulus) é a única espécie de canídeo brasileiro endêmica do Cerrado, comum nos campos e platôs do estados de Mato Grosso, Goiás, Minas Gerais e São Paulo. Se o leitor é destas regiões e não reconhece o nome, talvez o conheça por outro: também é conhecida como raposinha-do-campo, cachorro-de-dentes-pequenos ou jaguapitanga.
Um dos menores cachorros selvagens brasileiros, pesa de 2,7 a 4 kg e tem de 58 a 64 cm de comprimento, além da cauda que se estende por mais 32 cm, em média. Sua pelagem é curta com coloração cinza claro nas porções nas costas e cinza-amarelado na barriga, motivo pelo qual ganha o nome de raposa grisalha, em inglês (hoary fox). As orelhas e patas são levemente avermelhadas. A cauda possui pelos longos. Para o olho destreinado, a raposa-do-campo é muito parecida com outros dois canídeos do Cerrado, o cachorro-do-mato (Cerdocyon thous) e o graxaim-do-campo (Lycalopex gymnocercus).
Como diferenciá-los? Apesar das semelhanças na coloração destas espécies, a identificação das mesmas deve levar em conta os detalhes: a raposa-do-campo tem uma mancha negra na base da cauda, característica peculiar a todas as espécies do gênero Lycalopex, além da ponta da cauda negra, que o diferenciam do cachorro-do-mato. Com relação ao graxaim-do-campo, a diferença está no tamanho, já que este é maior que a raposa-do-campo, com a cabeça, o focinho e o peito mais largos e robustos.
A raposa-do-campo é um animal com sentidos bastante aguçados e por isso muito atento ao que ocorre ao seu redor. E precisa ser, já que a espécie tem hábitos crepusculares-noturnos: inicia suas atividade após o pôr do sol e termina ao amanhecer. É neste período que sai a caça suas presas: um carnívoro insetívoro-onívoro, utiliza cupins como a base de sua alimentação. Também consome, em menores proporções, besouros e gafanhotos e, conforme a disponibilidade, frutos silvestres e exóticos, pequenos mamíferos, lagartos e cobras, anuros e aves.
São animais normalmente solitários, exceto, claro, na época de reprodução que ocorre no início do outono. Fiéis, formam pares reprodutivos durante a estação de acasalamento que permanecem juntos durante a criação dos filhotes. A fêmea escolhe um local protegido, geralmente uma toca abandonada de tatu-peba (Euphractus sexcinctus). Após cerca de dois meses de gestação, dá à luz de 2 a 5 filhotes que nascem geralmente de julho a agosto.
As fêmeas amamentam os filhotes até os 4 meses de vida, podendo permanecer com eles por 2 a 4 meses e eventualmente mais tempo. Geralmente tímidas, nesta época inicial as raposas irão agressivamente defender seus filhotes. Entre nove e 10 meses de idade, as jovens raposas deixam seus pais e começam a estabelecer seus próprios territórios, às vezes próximos à área onde passaram seus primeiros meses de vida.
O Cerrado é um bioma sob alta pressão de atividade humana e com menos de 20% de sua área original ainda em estado primitivo. Por depender do seu ambiente, isto se reflete numa perda populacional equivalente para a espécie. Também, a Lycalopex vetulus sofreu e sofre perdas importantes decorrentes de atropelamento, predação por cães domésticos, doenças, retaliação à equivocada percepção de que o animal ataca animais domésticos, e alta mortalidade de filhotes/juvenis. Numa estimativa conservadora, o declínio populacional até agora – os últimos 15 anos – se aproxima dos 30% e talvez atinja esta marca num futuro próximo.
Ainda assim, a espécie não está incluída na lista brasileira oficial de espécies ameaçadas de extinção. E por esta razão não há planos de conservação que a envolvam. Recentemente (outubro/2013), uma avaliação de especialistas, coordenada pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade, a categorizou como Vulnerável. Para a IUCN, a raposa-do-campo é considerada Pouco Preocupante (LC) porque aparenta ser relativamente comum e localmente abundante na área central de sua distribuição, além de exibir certa adaptabilidade a distúrbios causados pela ação humana. Esta avaliação entretanto, como todas acerca da espécie, foi baseada em estimativas pouco precisas sobre o tamanho e dinâmica populacionais.
Diante deste quadro, a raposa parece bem desperta, não? Quem deve acordar somos nós.
*Artigo editado em 02/05/2014 às 17h00.
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