Lima, Peru – Os povos indígenas querem criar um Fundo Clima para a Amazônia nos moldes do Fundo Verde de Clima (‘Green Climate Fund‘) para financiar projetos de adaptação climática desenvolvidos por indígenas na região amazônica. Eles ainda reivindicam o reconhecimento do REDD+ Indígena Amazônico (RIA).
Representantes dos povos indígenas lançaram durante Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, COP20, que acontece até esta sexta-feira, dia 12 de dezembro, em Lima, dez propostas para serem discutidas nas negociações de alto nível que ocorrem esta semana a portas fechadas entre as delegações internacionais.
Sob o nome “Os Povos Indígenas Fream a Crise Climática”, o documento em formato de livro, com quase 50 páginas, anuncia dez propostas com objetivos claros para eliminar os grandes impulsores do desmatamento, além de mecanismos de incentivos para a redução de emissões. Segundo a carta com as propostas, a mitigação de emissões de gases de efeito estufa pode ser alcançada com um programa de REDD+ voltado aos indígenas dos nove países amazônicos.
Para o equatoriano Edwin Vasquez, da Coordenação das Organizações da Bacia Amazônica (COICA), como o desmatamento é o principal motor para o aquecimento global, a participação dos povos e comunidades indígenas é de “vital importância”.
Dados da COICA indicam que a Amazônia indígena registra apenas 0.2% de desmatamento enquanto o desmatamento em áreas protegidas é de 1,4%.
“É simples o que queremos. O Fundo Verde de Clima e os outros fundos não chegam diretamente aos povos indígenas. Nesse sentido, para poder fortalecer nossa capacidade de organização e que os recursos cheguem diretamente aos povos que protegem a floresta, desenhamos este fundo que será finando por pessoas jurídicas, instituições, governos e empresas que queiram colaborar”, disse a ((o))eco Edwin Vasquez.
Como liderança e representante de 390 povos indígenas dos nove países amazônicos, Vasquez defende um “diálogo sério” das autoridades com os indígenas e o respeito à titularidade das terras, assim como o financiamento climático. Segundo ele, as Terras Indígenas têm mais de 24 funções sistêmicas desde o uso e manejo das plantas medicinais, tradições culturais e o estoque de carbono. “As florestas absorvem CO2, esse veneno que está nos matando lentamente”.
Para o peruano Alberto Pizango Chota, presidente da Associação Interétnica de Desenvolvimento da Selva Peruana (AIDESEP), não se pode falar em REDD sem antes assegurar os territórios indígenas. “É o que falta, não podemos pensar em REDD se não nos garantirem o exercício pleno do direito à livre determinação. Esta é uma proposta dos povos para frear a crise climática”.
Leia também
Reta final da COP-20 pode abraçar proposta brasileira
Terras Indígenas e Unidades de Conservação armazenam 55% dos estoques de carbono na Amazônia
Países se comprometem a restaurar 20 mi de hectares até 2020
Leia também
Candidatos nas campeãs de desmatamento na Amazônia acumulam irregularidades ambientais
Levantamento exclusivo mostra que 63 candidatos-fazendeiros têm problemas em suas propriedades. Em São Félix do Xingu (PA), prefeito condenado por mentir para atrapalhar desintrusão de terra indígena tenta se reeleger →
Amazônia branca: sem proteger a Antártida, adeus clima
Itamaraty precisa fortalecer o papel do Brasil na proteção da Antártida e mandar delegação qualificada para a reunião da Convenção para os Recursos Vivos Marinhos Antárticos →
Extrema direita pode levar a Amazônia ao ponto de não retorno, dizem pesquisadores
Artigo assinado por 14 pesquisadores de diferentes instituições alerta para perigo da eleição de políticos de extrema direita em municípios com grande desmatamento →