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Quanto mais desmatadas, mais fácil de extinguir

No lugar de mais fiscalização em áreas desmatadas, governo de Rondônia opta por reduzir ou extinguir áreas para a construção de hidrelétricas, produção de gado e mineração

Sabrina Rodrigues ·
21 de fevereiro de 2018 · 6 anos atrás
Para construir as hidrelétricas de Jirau e Santo Antônio, ambas no Rio Madeira, em 2010, foram reduzidas ou simplesmente extintas 10 unidades de conservação em Rondônia. Foto: Rio Madeira, Eduardo Santos/Flickr.

Para diminuir ou extinguir uma unidade de conservação em Rondônia, basta passar o trator por cima da floresta. O desmatamento de Unidades de Conservação, tanto federais quanto estaduais, aumenta a chance dela entrar na lista das que terão seus limites revistos ou extintas, é o que revela o estudo publicado na revista científica Proceedings of the National Academy of Sciences of the United States of America.

O levantamento foi realizado por pesquisadores da George Mason University, na Virginia e da Duke University, na Carolina do Norte,  junto com a ONG Conservation International. Os pesquisadores avaliaram 62 áreas protegidas no estado, englobando parques estaduais e nacionais, áreas de proteção ambiental (APAs) e reservas.

A redução ou extinção de áreas protegidas é conhecida como PADDD (Protected area downgrading, downsizing and degazettement), a saber, redução, degradação ou eliminação de unidades de conservação, tendência observada em muitos estados amazônicos. Em 2016, o governo federal tentou reduzir a Floresta Nacional de Jamanxim para resolver o caos fundiário da região. A medida foi criticada por beneficiar grileiros.

Há uma unidade de conservação no meio do caminho

Para construir as hidrelétricas de Jirau e Santo Antônio, em 2010, foram reduzidas ou simplesmente extintas 10 unidades de conservação em Rondônia. Quatro anos depois, o governo estadual tentou reduzir ou extinguir mais 20 áreas protegidas, dessa vez para criar gado no local onde havia uma unidade de conservação. A justificativa é que o local já estava desmatado, logo, não deveria ser protegido. Parte do processo não foi para frente por causa de ação do Ministério Público.

Para Rodrigo Medeiros, um dos autores do estudo e vice-presidente de Conservação Internacional no Brasil, é fundamental que se aumente a efetividade da proteção dessas áreas e, mesmo degradadas, se avalie os benefícios de sua restauração.

Ainda segundo o estudo, as áreas protegidas próximas a rios, estradas e em locais que oferecem vantagens econômicas e logísticas favoráveis à produção de gado, energia e mineração são alvos de um processo de barganha entre governos e empresários, favorecendo o desmatamento na região e, assim, o fim do status de protegida.

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  • Sabrina Rodrigues

    Repórter especializada na cobertura diária de política ambiental. Escreveu para o site ((o)) eco de 2015 a 2020.

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