Reportagens

Ecologicamente correta

A 7ª edição da Adventure Sports Fair trouxe muitos lançamentos, atrações, dicas de turismo e esportes de aventura. Tudo sem esquecer o apelo ambiental.

Aline Ribeiro ·
26 de agosto de 2005 · 19 anos atrás

É praticamente impossível que um visitante tenha saído da 7ª edição da Adventure Sports Fair sem levar para a casa o que tinha ido buscar. Muitos, aliás, não pretendiam procurar coisa alguma, mas acabaram encontrando alguma coisa. Diversidade de produtos e dinamismo não faltaram nos 25 mil m² distribuídos em três andares da Bienal de São Paulo, de 24 a 28 de agosto.

A cada etapa da visita, mais lançamentos, atrações e, por que não, lazer. Se estivesse em busca de cursos de mergulho, pára-quedismo ou escalada, encontraria. Caso quisesse se aventurar em pistas de off-road e ciclismo ou até mesmo praticar rapel e tirolosa, também podia. Na maior feira de turismo e esportes de aventura da América Latina, os produtos expostos variavam de roupas e calçados esportivos a veículos 4×4 e equipamentos utilizados em esportes de aventura.

Para a alegria dos ambientalistas, turismo e prática de esportes radicais estiveram, em todo momento, conciliados à preservação da natureza. A cada ano, atividades voltadas à conscientização dos esportistas, sejam eles profissionais ou amadores, têm ganhado mais evidência na feira. Nesta edição, o tema meio ambiente ocupou o terceiro andar inteiro, onde ongs, empresas e órgãos do governo puderam expor seus projetos e sensibilizar o público sobre a importância da prática de esportes com responsabilidade. “Conforme o turismo de aventura cresce, mais temos de nos preocupar com o futuro. Conscientizar os participantes é uma forma de amenizar os impactos ambientais nos próximos anos”, ressalta Sérgio Bernardi, da Promotrade, empresa responsável pela organização do evento.

E é com muita teoria que se chega mais perto da prática perfeita. Pensando nisso, grande parte da vasta programação da feira foi destinada ao debate de temas ambientais. Foi o caso da 1ª Mostra Brasileira de Filmes de Aventura e Turismo, com documentários, expedições e vídeos de curta e média metragens. O público presente também pôde conferir o Fórum Interamericano de Turismo Sustentável, que trouxe à tona discussões sobre o turismo em unidades de conservação e parques nacionais. Um vídeo lançado pelo Ministério do Meio Ambiente mostrou como mergulhadores devem agir para preservar ambientes recifais. Congressos, palestras e simpósios também ilustraram os cinco dias de reflexão. Ao caminhar pelo terceiro andar do prédio da bienal, era possível perceber essa preocupação estampada nos stands feitos de bambu e até na pequena praça de alimentação, onde eram servidos somente produtos orgânicos. O lixo produzido durante a feira também tinha destino certo: reciclagem e reutilização.

Mais uma vez, a Confederação Brasileira de Montanhismo e Escalada (CBME) esteve na feira levando conceitos teóricos aos participantes. Caneta e papel na mão, os visitantes aprenderam os Princípios de Conduta Consciente em Ambientes Naturais. Apesar do nome longo e um pouco complicado, os ensinamentos da chamada prática do mínimo impacto são fáceis de executar. Mas veja bem: são ensinamentos, não regras. “Quem deixar de fazê-los não vai para o inferno. Mas, quem os fizer, vai para o céu”, brinca Silvério Nery, presidente da CBME. Para quem perdeu a aula, aí vão as oito dicas indispensáveis para uma viagem segura e ecologicamente correta: “Planejamento é fundamental”; “Você é responsável por sua segurança”; “Cuide das trilhas e dos locais de acampamento”; “Traga seu lixo de volta”; “Deixe cada coisa em seu lugar”; “Não faça fogueiras”; “Respeite os animais e as plantas”; “Seja cortês com os outros visitantes”. E se essas máximas ainda não forem suficientes, Nery tem mais uma carta na manga. “Não deixe nada a não ser pegadas, não tire nada a não ser fotografias, não traga nada a não ser lembranças”, reforça, referindo-se à forma correta de se comportar durante uma viagem ecológica.

Na visão de Nery, é fundamental que o meio ambiente seja lembrado em feiras como essa, porque muitos esportistas ainda têm atitudes incorretas, ao entrar em contato com a natureza, por falta de informação. “Alguns não fazem por maldade, mas acabam prejudicando o ambiente por desconhecerem a forma certa de agir”, lamenta. Para amenizar essa deficiência, a CBME está intensificando as ações de divulgação do projeto “Adote uma Montanha”, cujo objetivo é conscientizar os esportistas a cuidar dos locais destinados à prática do montanhismo. “O trabalho dos 30 grupos envolvidos varia de acordo com a montanha. Fazemos desde a estruturação e manutenção de trilhas até limpeza e orientação”, conta.

Para conhecedores de esportes de aventura, que já estão mais que habituados com os equipamentos utilizados nessas práticas radicais, os lançamentos apresentados na feira podem não ser tão novos assim. Para os leigos, porém, tem muitas novidades. A linha de “outdoor” que utiliza a mesma tecnologia das botas usadas de militares em operações táticas é uma pequena mostra das inovações. Impermeáveis e resistentes, são apropriadas para terrenos acidentados, escaladas e pântanos. As botas contam ainda com uma espécie de “meião” interno, que elimina o suor dos pés e, ao mesmo tempo, impede a entrada de água e umidade externa.

Outra curiosidade apresentada na feira são as mini pás-ecológicas. Sua utilidade? Digamos que seja algo não muito agradável, mas necessário: ajudar na soterração de fezes humanas num acampamento que não tem banheiros. Uma espiriteira de titânio que funciona com álcool é outro lançamento que contribui para a preservação do ambiente. Além de evitar as fogueiras e possíveis inícios de queimadas, não agride a mata e o solo. A Feira trouxe outros produtos ecologicamente corretos, como motocicletas e scooters subaquáticas movidos a energia elétrica. Assim, não emitem gás carbônico.

Tanta movimentação e novidades não poderiam resultar em outra coisa que não a expectativa de crescimento. O balanço final da feira ainda não foi divulgado, mas a previsão para este ano é de aumentar em 15% o volume de negócios em relação a 2004. O que significa aproximadamente R$ 84 milhões e 70 mil visitantes. Pelo visto, os organizadores conseguiram.


* Aline Ribeiro é repórter em São Paulo e, atualmente, colabora com a revista Exame.

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