Reportagens

Ataque dos maruins

Cidades do nordeste catarinense sofrem com os maruins, inseto com incidência 16 vezes maior do que a suportável. Pesquisadores suspeitam que as mudanças no clima sejam a causa.

Eunice Venturi ·
19 de setembro de 2007 · 17 anos atrás

Um inseto que mede entre um e dois milímetros está preocupando as autoridades ambientais de Joinville e Jaraguá do Sul, no nordeste de Santa Catarina: os maruins. As moscas pequenas, assim chamadas na língua tupi-gurarani, estão em desequilíbrio na natureza. Nos últimos anos, a espécie culicoides paraensis, que se reproduz em ambientes quentes, aumentou sua incidência e agora chega a incomodar a população da região com 80 picadas por hora, ou seja: 16 vezes mais do que a Organização Mundial de Saúde considera suportável. Com dias mais calorentos no Sul, já tem pesquisadores achando que as mudanças climáticas estão mostrando as caras.

A reclamação dos moradores contra o maruim é antiga e motivou uma pesquisa iniciada neste mês que pretende controlar a população em desequilíbrio em Joinville. Segundo o biólogo paranaense Luiz Américo de Souza, que lidera os estudos na Fundação Municipal de Desenvolvimento Rural 25 de Julho, o inseto tem uma picada ardida e transmite enfermidades. Uma das doenças recorrentes é a língua azul, que acomete animais como ovinos, caprinos e bovinos. Além disso, o maruim pode causar oropouche, uma doença que provoca sintomas semelhantes aos da meningite. Mas os problemas mais comuns são as dermatites, infecções localizadas causadas pela intensa coceira das picadas.

A pesquisa da Fundação 25 de Julho está mais adiantada no município de Jaraguá do Sul, onde o biólogo Ulises Sebastian Sternheim descobriu a associação do bichinho, endêmico da Mata Atlântica, com o cultivo de bananas. “Sabemos que, no ambiente do bananal, ele usa o cepo da bananeira em apodrecimento para se reproduzir. As próximas etapas da pesquisa são os testes de alternativas de controle”, conta o biólogo.

Maruins têm um ciclo de vida de aproximadamente 50 dias e podem ser encontrados também nos manguezais. Eles se alimentam de matéria orgânica em decomposição e gostam de ambientes quentes e úmidos. Segundo Souza, em Joinville os maruins encontram condições ideais para se reproduzirem: talos de bananas cortados.

Da banana para casa

“Tanto na área rural como na urbana, produtores de bananas não têm o hábito de cortar o talo rente ao chão. A conseqüência é de que aquele talo se tornará um ambiente perfeito para a proliferação do mosquito”, explica Souza. O problema sempre existiu, o agricultor sempre conviveu com essa população em “desequilíbrio”, mas, para Souza, o problema só se tornou objeto de atenção quando os insetos começaram a atacar a população urbana.

As escolas rurais foram as primeiras a reclamar. Notícias de aulas frequentemente interrompidas são comuns na região. “Os maruins não perdoam”, brinca Souza, que relata também vários casos de recantos de lazer na área rural cujo número de freqüentadores está diminuindo consideravelmente. Uma das prováveis causas desse desequilíbrio é a ausência de geadas, ou seja, com mais calor, mais maruins vão se proliferar. “Acredito que o frio é um dos predadores naturais do inseto”, afirma Souza.

Para estudar o inseto, os pesquisadores coletam os maruins em armadilhas, como o que eles chamam de caixas de eclosão. Elas já foram espalhadas em cinco pontos de Joinville. A cada dois dias a equipe do projeto recolhe os animais que ficam em recipiente com álcool e posteriormente os examinam em laboratório. Há mais de um ano, Souza vem armazenando as coletas e assim que os recursos forem liberados serão encaminhados para análise à Fundação Osvaldo Cruz, no Rio de Janeiro.

Por falta de pesquisa na área, os repelentes naturais ou industrializados estão se mostrando ineficientes. Souza explica que é comum encontrar em Joinville residências com telas nas portas e janelas, bem com nas escolas. Para ele, uma alternativa também é alertar a população sobre o descontrole: “As pessoas têm que começar a perceber que as conseqüências dos problemas climáticos do planeta nos afetam diretamente”, alerta.

* Eunice Venturi é jornalista em Santa Catarina

  • Eunice Venturi

    Eunice Venturi é jornalista, catarinense de formação. Experiência na produção de conteúdos sobre a Amazônia e a Mata Atlântica.

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Comentários 24

  1. Cristiana diz:

    Todo lugar de xerem rj está cheio de maruin nem repelente resolve


  2. Miguel diz:

    Região sudoeste do estado da Bahia, está infestado desta praga, a detetização parece não surte efeito, nem os "venenos " colocados nas tomadas. Tive dermatite por todo corpo e fui obrigado a tomar medicamento forte para combater a alegria. É chato mais você pode diminuir o efeito das mordidas passando metade de 1 limão em cima dos calombos, também passar babosa ou então a pomada de vick é muito boa. Felicidades


  3. Lúcia clapp diz:

    Minha casa é no Horto, Jardim Botânico.
    Desde junho,sentia muita coceira no couro cabeludo e desembaraçada meu cabelo na pia do banheiro e aí ví e fotografei este micro mosquito que dois dermatologistas não levaram em consideração e consideravam os que estava inventando.
    Uma amiga farmacêutica descobriu. Que era Maruin e me acalmou.


    1. Maria diz:

      Lucia também sinto que os mosquitos estão no meu cabelo, o que você fez para te ajudar ?


  4. Karla diz:

    Pessoal meu cachorro está todo picado , tendo calafrios , gritando , pareci que eles vinherrão em nossas mochilas roupas , uma coisa horrivel , as vezes sinto como um cisco no olho , como se estivesse mordendo meu nariz , venho meu cabelo pois sentir umas mordidas , sair correndo larvar . Parece um pesadelo , algumas coisas minhas estão no carro na mala , quando pego pra vestir mim coço toda com se eles estivesse vindo nas roupas. Se alguém puder mim ajuda …socorro


  5. Karla diz:

    Oi eu moro em salvador , meu apto foi tomado pelos moruim brancos , tive que sair do meu apto em pleno coranavírus , nenhum enceticida deu jeito , mandei detetizar , estou fora do apto , volto em 3 três dias pra limpa minhas coisas …. Peço a Deus que dê certo


  6. A.Widmer. diz:

    Moro Salvador, Bairro de Ondina e recentemente tenho sido atacada por esses insetos (maruins).
    É um desespero. Fazem arder coçar, principalmente me atacam nas pernas. Não sei como combate-los.


    1. Jair diz:

      Eu e a minha mulher estamos “gravados” pelo mosquito maruim há 7 meses. Depois que ele lhe toma como alimento, aonde você for, os que estão lá vão reconhecer você porque com a picada colocam um “sinal” na pessoa. Nos primeiros 5 meses tentei repelente corporal (Deet, Icaridina) e ajuda muito pouco. Raquete elétrica, você mata 100 e chegam mais 100. Inseticida, espanta e parece que o mosquito fica mais furioso. Moro em apartamento no 3º andar e na casa ao lado vê-se que o vizinho não dá manutenção no jardim. Muito sujo. Bananeiras, bromélias, amoreiras, etc. Como consegui retirar 95% do mosquito daqui: – tecido voal (voile) nas janelas (colocado com fita velcro com cola dupla face). Para quem precisa “bascular” a veneziana e o vidro. Por cima da fita velcro (os pequenos 0,05 passam), acabamento em fita crepe larga. Nas portas, fita crepe que deixo já instalada com 2/3 dela na porta e 1/3 para correr nos vãos (inclusive nas guarnições e dobradiças). E o principal: – repelente de tomada com depósito líquido (gás piretróico) que mata o mosquito. De 2 (os grandes de 3, 4 mm) até 10 horas (os pequenos e os “micro” de 0,05mm). Colocar em ambiente fechado (10m²) cada repelente. Ex: coloco no quarto e quando vou dormir, retiro o repelente e coloco na sala. Sempre sem a presença de pessoas (pode intoxicar). Esta foi a única maneira que consegui retirar aqui de casa o mosquito. E os 5%? Estes entram quando você abre a porta para sair da moradia ou abre as janelas para escurecer ou clarear o ambiente. Com isto, você vai viver com o incômodo, mas não vai se estressar. Só quem está convivendo com esse mosquito sabe o que eu estou falando. É a minha experiência.


      1. Daniella diz:

        Sr Jair. Faz 4 meses que não durmo. Não aguento mais. Tentei de tudo. Só mordem eu e meu cachorro. Já chorei, rezei, fiz defumação, fiz açúcar com fermento numa garrafa Pet, tenho 2 raquetes elétricas, inseticida, repente de pastilha e de tomada, passo aspirador e pano com lisoform, água sanitária, detergente todos os dias… e nada. Estou acabada. Só eu sinto a picada, os outros são de casa não. Meu sangue é O o dos outros é A. Coloquei oval na janela do banheiro e do meu quarto, mas a porta fica aberta, e dos outros cômodos tb. Minha casa tem 3 andares e nos 3 tem maruim. O jardim do vizinho e as calhas estão imundas, mas não tem conversa com ele. Não sei mais o que fazer. E agora esse vírus não dá pra sair…


  7. Gonçalves Sousa diz:

    Sabe de nada e fica dando opniao furada 😒. É regional criatura, vai andare no meio da Amazônia fechada e vc vai ver os mesmos insetos.


  8. Jair diz:

    Colocar tecido voal (voile) nas janelas, fita crepe nos vãos de portas, repelente de tomada (gás piretrøico) nos ambientes fechados e sem presenca de pessoas (pode intoxicar). Esse gás leva de 2 (maruins 4mm) até 10 horas (Martins 0,05 mm) para matar esse mosquito. Inseticida espanta mas não resolve; raquete vc mata 100 e daí a pouco chegam mais 100. Repelente corporal é medida paleativa. É a minha experiência.


  9. Jair diz:

    Eu e minha esposa estamos "gravados" pelos maruins. Sangue tipo O. Várias picadas ao dia. Conosco não funcionou o repelente corporal (deet ou icaridina). Para minorar o problema use o repelente de tomada com depósito líquido que tem efeito contra os maruins maiores (não pode ter corrente de ar mas apenas pouco circulação de ar no ambiente). Este pode intoxicar. Raquete elétrica funciona junto com este repelente quando eles estão sendo sufocados procuram local sombreados e da cor deles na casa. O que restringe mais ainda a ação deles é o tecido voal nas janelas pois a tela mosquiteiro permite a passagem deles. O melhor seria ambiente todo fechado com ventilação forçada e que anule que o seu cheiro chegue a eles. É o que tenho observado


  10. Maria de Fátima diz:

    Oi…gostaria de saber se foi encontrado um inseticida para o maruim pois estou a ponto de dá um infarto na minha casa eu vejo minha mãe chorar nem comer mais tem jeito por causa desse inseto e insuportável por favor me respondam pois li nesta reportagem sobre o assunto e vi uma luz no fim do túnel e já faz alguns anos que começaram a pesquisa


  11. joao candido diz:

    VC sabe me dizer se os inseticificocidas comuns não funcionam…e se tem algum especifico…


  12. Rogério de Sá diz:

    Essa é a pior raça de mosquitos que existe. Eu falei com pesquisadores que tentam encontrar uma solução para a infestação a 11 anos e parece que estão perto de um inseticida a base de clorofila. Depois de sofrer 1 anos com esse mosquito, eu encontrei uma solução paliativa que funciona quase 100%. Eu usei uma garrafa pet toda furada e coloquei água com açúcar, vinagre de maça e algumas gotas de detergente, funcionou muito bem. Além disso, fiz um teste a alguns dias colocando uma lampada de led, daquelas tipo SPOT dentro da garrafa e forrou a garrafa de mosquitos mortos em apenas 2 dias.


  13. Meire Marchioni diz:

    Aqui em Andirá Parana |, , também está tendo incidência de Maruim. Incrível como em um local urbanizado aconteça isso. Minha casa esta infestada, passei todos tipos de veneno, eles nao morre, estou toda picada, com muita dor e coça muito e deixa marcas no corpo, Socorroooo nao aguento mais, me ajuda fazendo favor


  14. Atila diz:

    Na região da Tijuca, aqui no Rio de Janeiro, também está tendo incidência de Maruim. Incrível como em um local urbanizado aconteça isso.
    Ruas como dona Delfina, Barão de Itacurussa e até na Conde de Bomfim. . Muito ruim a picada, já que permanece dias coçando.


  15. joao Candido diz:

    É insuportavel conviver com esses mosquitos . Tenho um sitio na região serrana de Guaramiranga no Ceará, local com temperatura amena e fria principalmente a noite ,mas mesmo assim ha um proliferação desses mosquitos .Alguem sabe como combater esses micro insetos , como uso de inseticidas, fumacê no entorno ou qq outra acão?


  16. paty diz:

    Passei o domingo no sitio do meu sogro,e la levei uma surra desses mosquitos.já e segunda-feira e o meu corpo ta coçando ainda e começar empolar.


    1. renato diz:

      vc dormiu foi tarada pelo homens da casa e nem viu kkkkkkkkkkkk


  17. erivaldo diz:

    Moro em sambaetiba, Itaboraí, RJ. Aqui, está ocorrendo um impacto ambiental em virtude do aterramento de vários mangues feito pelo pólo petroquímico- comperj. Os maruis migraram, e invadiram toda a região, está ficando insuportável, pois são várias picadas todos os dias dentro de casa. Tenho alergia e vira pequenas feridas que duram em média 15 dias. Os repelentes não fazem efeito! Gostaria que alguém me desse uma sugestão!! ???


  18. Ivonete Rocha diz:

    Moro em Natal/RN, bairro Morro Branco, em minha casa tem tanto Maruim que nem conseguimos assistir a tv. Meu esposo fica chatiadíssimo. O que podemos fazer? Ivonete Rocha


  19. SOCORRO MAGALHÃES diz:

    Na Serra de Guaramiranga, no Ceará, eles também atacam cruelmente, mesmo tendo preferência por lugares quentes e úmidos. Eles são tão
    pequenos que , muitas vezes, nem se vê. Acredito que o desequilíbrio ecológico causado , pelo próprio homem, com o desmatamento seja o maior responsável pelos seus hábitos , hoje, também urbanos. O pior é que a coceira perdura po mais de uma semana provocando feridas na pele. é horrível.


  20. marisol diz:

    Fui picada recentemente em uma cidade satelite de Bsb. Nossa como ardeu, ja fazem duas semanas e o local ainda esta vermelho e coçando, na hora ficou bem inchado.