Reportagens

Um circuito nas alturas (parte 1)

O Circuito Externo do Parque Nacional da Tijuca percorre nove cumes, do famoso Pico da Tijuca aos desconhecidos Castelos da Taquara.

Duda Menegassi ·
13 de dezembro de 2012 · 11 anos atrás
Vista do Pico da Tijuca com o Pão de Açúcar ao fundo. (Foto: Duda Menegassi)
Vista do Pico da Tijuca com o Pão de Açúcar ao fundo. (Foto: Duda Menegassi)

Com o mesmo espírito de Dorothy, que seguia os tijolos amarelos no mundo de Oz, o visitante é guiado pelas setas amarelas em mais esse caminho da futura Transcarioca. E dessa vez as setas levam às alturas. O Circuito Externo Major Archer do Parque Nacional da Tijuca conta com nove picos: Andaraí Maior, Tijuca Mirim, Tijuca, Archer, Papagaio, Cocanha, Taquara, Castelos da Taquara e o Mirante da Cascatinha.

O caminho dessa longa jornada começa pela Estrada Excelsior, que não é parte do trajeto oficial da Transcarioca, mas que serve à função de levar ao início da trilha. Essa parte é coincidente ao Circuito Interno e leva até o ponto da Caveira, onde as setas vermelhas e amarelas divergem. São 25 minutos aproximados de subida para chegar no Colo da Tijuca Mirim, ponto onde, no projeto final, vai desembocar a Transcarioca, vinda dos Ciganos (essa é uma trilha já existente, porém precisa de manejo para ser liberada para uso público). Por ora esse não é ainda um caminho, então sigo o trajeto original e chego no primeiro cume, o Andaraí Maior. Não o subestime por ter “apenas” 861 metros de altitude, sua vista contempla toda a zona norte e oeste da cidade, e dá até para ver a Ponte Rio-Niterói e dar uma espiada no município vizinho.

De volta ao Colo da Tijuca Mirim, hora de ir na outra direção para o outro pico, que dá nome a esse Colo. Mais um pouco de subida e o Tijuca Mirim se exibe com seus valorosos 917 metros de altura, como se estivesse na ponta do pé tentando alcançar o “Tijucão”, que fica logo ao lado, ainda mais alto. Em contrapartida, do topo do Mirim o Andaraí Maior parece menor, tímido por perceber que não é o “maior”.

Esse posto ficou com o Pico da Tijuca, próxima parada na trilha que leva o visitante às alturas, literalmente. Antes de chegar no cume é preciso encarar 117 degraus esculpidos na pedra, numa subida vertiginosa auxiliada por uma corrente de ferro, para segurança dos visitantes. Cada passo na escadaria te aproxima dos 1021 metros de altitude do ponto mais alto dentro do Parque Nacional da Tijuca, que também é um dos mais visitados.

No Pico da Tijuca a visão é 360 graus. O oceano azul de um lado, a imensidão da cidade de concreto no outro e em volta os detalhes que completam o visual: os morros, a Pedra da Gávea, as praias, o Pão de Açúcar ao fundo. O Rio de Janeiro inteiro está aos nossos pés. Não tenha pressa, olhe para cada pedacinho dessa paisagem estonteante. Inveje as borboletas que voam lá por cima. Curta sem pressa. Faça um piquenique ou apenas sente e aplauda em silêncio enquanto tenta decorar a vista para contar aos outros. O Pico da Tijuca é um dos pontos mais visitados do Parque, exatamente por essa beleza contada de boca em boca.

O desconhecido Mirante do Archer prova que também merece ser visitado. (Foto: Duda Menegassi)
O desconhecido Mirante do Archer prova que também merece ser visitado. (Foto: Duda Menegassi)

O que muita gente ainda não conhece é a beleza dos outros picos. Como o desconhecido e pouco visitado Archer. Cerca de uma hora de descida que serpenteia a encosta do Maciço da Tijuca e a sinalização do Parque indica a bifurcação, com a placa que aponta o Archer logo ali. A caminhada de 15 minutos de subida leve vale a pena. Lá enxergamos o Tijuca, pico e Parque. Um contraste verde com o céu azul.

Agora sim, rumo ao Papagaio, antes que ele voe. Voar talvez seja uma opção na cabeça de muitos visitantes, devido à puxada subida até o cume. Uma gruta no caminho é um convite à sombra e água fresca para renovar a força das pernas. Uma curiosidade é o nome “Gruta do Navio”, pois uma das pedras tem o formato de uma proa de barco. Já descansou? De volta à trilha, então! E guarde fôlego para perder com o visual incrível quando chegar no cume.

O Pico do Papagaio é o segundo mais alto do Parque, com 989 metros de altitude. O nome, aliás, não é porque há essa ave por lá, pelo contrário, quem domina os céus são os urubus. As formações rochosas do topo é que originaram esse nome, pois se assemelham ao bico de um papagaio. A pedra descoberta de vegetação nas alturas, tão próxima ao Sol e seus impiedosos raios, exige cuidado do visitante: protetor solar é sempre uma opção sensata!

Atenção redobrada na descida, pois como alerta a guia e funcionária do Parque, Ester Capela, “É na descida que ocorrem a maioria dos acidentes e é também quando forçamos mais nosso joelho”. A segunda parte do Circuito continua amanhã.

  • Duda Menegassi

    Jornalista ambiental especializada em unidades de conservação, montanhismo e divulgação científica.

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