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Retrato-falado

Graças a manchas e a calosidades espalhadas pelo corpo, baleias-francas podem ser identificadas individualmente e à distância, como do alto de um helicóptero.

Carolina Elia ·
22 de setembro de 2004 · 20 anos atrás

As baleias-francas, junto com as jubarte, são as mais fáceis de serem reconhecidas individualmente. A jubarte graças ao formato da sua cauda. A franca, pelas calosidades espalhadas em sua cabeça. A disposição das calosidades nunca se repete e vira a impressão digital de cada baleia. Graças a elas, é possível fazer o retrato-falado de uma franca. A bióloga Karina Groch, que trabalha no Projeto Baleia Franca desde 1996, tem olho treinadíssimo. Consegue reconhecer indivíduos da espécie franca à distância. Já ajudou a catalogar 332 deles que passaram pelo litoral brasileiro.


As calosidades na cabeça de uma franca seguem a mesma distribuição dos cabelos do rosto humano masculino. Elas se formam na parte superior do crânio, sobre os olhos, no queixo, próximo à boca e perto do orifício respiratório. Sua visualização é facilitada pelos ciamídeos, um crustáceo branco-amarelado que colonizam essas protuberâncias. Algumas baleias também possuem outras indicações de sua individualidade, como cicatrizes. É o caso da Dot J (foto). Ela foi vista pela primeira vez na década de 70 na Argentina e tem no dorso uma cicatriz com o formato da letra J colada a um pontinho branco, daí o apelido. Em 2001 a Dot J foi vista com um filhote no litoral do Rio Grande do Sul e este ano apareceu de novo com uma nova cria.


As baleias-francas costumam voltar ao mesmo lugar de três em três anos e eleger um lar para criar os filhotes. A espécie não é muito acrobática, mas nesse período é comum ver mãe e filho ensaiando manobras.  Numa mistura de carinho e brincadeira, a mãe incentiva o desenvolvimento da coordenação motora do bebê e lhe ensina alguns hábitos da espécie. Entre eles o de se virar sozinho, já que com um ano de vida os filhotes se separam das mães.   Como as calosidades demoram a ser colonizadas pelos crustáceos, os biólogos têm dificuldade de identificar filhotes logo após o nascimento, sendo possível somente após alguns meses de vida.


Uma outra característica única das baleias-francas é o esguicho em forma de V, um efeito provocado pela fato dos dois orifícios respiratórios da baleia serem separados. O esguicho nada mais é do que o ar quente que sai dos pulmões da franca e condensa ao entrar em contato com o ar frio. É um fenômeno comum, uma vez que a espécie não consegue ficar mais de vinte minutos sem subir à superfície. As francas são capazes de jorrar água a 8 metros de altura e o som produzido pode ser ouvida à distância.

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