Reportagens

Rediscutindo uma produção

WWF organiza mesa redonda para debater os impactos ambientais da soja. Entre os presentes, estão Unilever e o Grupo Maggi, maior plantador de soja do Brasil.

Manoel Francisco Brito ·
17 de dezembro de 2004 · 19 anos atrás

Nos dias 17 e 18 de março, em Foz do Iguaçu, realiza-se evento inédito. Trata-se de um fórum que discutiráa meios de reduzir os impactos ambientais da lavoura da soja. Pela qualidade dos participantes, a coisa será imperdível. Entre os organizadores do Forum Global Sobre Soja Sustentável, nome oficial do encontro, estão os braços suíço e brasileiro da WWF, o maior plantador de soja do Brasil, o grupo Maggi, um dos grandes produtores de óleos vegetais do mundo, a Unilever, e a COOP, rede de supermercados da Suiça. O WWF no Brasil está também ativamente envolvido na organização.

A decisão de fazer a primeira edição do fórum no Brasil foi proposital. A soja é uma das indústrias de maior crescimento na América do Sul na última década. Ela está entre os principais produtos agrícolas de Argentina, Paraguai, Bolívia e Brasil. Mas é aqui, mais do que em qualquer outro lugar, que o impacto ambiental da lavoura fica mais evidente. Principalmente no estado do Mato Grosso, campeão em desmatamentos esse ano. A discussão tem como modelo um forum semelhante, criado há dois anos pela WWF da Suíça para debater a produção sustentável do óleo de palma.

Já aconteceram dois encontros – o último foi na Indonésia – e seus resultados, segundo Ilan Kruglianskas, do WWF brasileiro, são palpáveis. “A discussão ajudou a sensibilizar instituições que estão ligadas às várias etapas da produção de óleo de palma para a questão da sustentabilidade da indústria”, diz ele. “E já existem vários projetos pilotos testando na prática as soluções que surgiram no debate”. Há até carta de intenções, assinada pelos participantes, se comprometendo a continuar buscando soluções para criar uma produção cada vez mais ecologicamente correta.

Foi esse sucesso que incentivou a WWF, tanto a suíça como a nossa, a realizarem algo semelhante sobre a soja no Brasil. Kruglianskas aponta para o fato que o debate aqui vai acontecer em contexto muito mais complicado do que vem ocorrendo na Ásia em relação ao óleo de palma. “A questão da sustentabilidade da soja é complexa”, explica Kruglianskas. “Ao contrário da palma, sua lavoura não é perene e se espalha por grandes extensões de terra”. O que não quer dizer que não dá para para debater pelo menos seus impactos ambientais e eventuais maneiras de diminuí-los.

“A intenção justamente é provocar a discussão e colocar o tema na frente de todos os envolvidos ou interessados na soja”, diz ele. A participação da Unilever e da cadeia de supermercados da Suíça é compreensível. Ambos, há tempos, por conta de pressões de ambientalistas e de marketing, dedicam atenção à questão do impacto ambiental da agroindústria em todo o mundo. Surpreendente é a presença no forum do grupo Maggi. Mas não para Kruglianskas. “O grupo Maggi está tomando contato com essa pressão ambiental nos últimos meses e provavelmente por uma estratégia de mercado, resolveu entrar ativamente no assunto. Dada a sua importância, isso é ótimo”, diz.

Mas não foi fácil convencer o Maggi que ele deveria estar presente. Aliás, não foi fácil convencer brasileiros a ajudar na organização do forum. “De todas as instituições envolvidas na cadeia de produção da soja no Brasil, os Maggi e a Fetraf-Sul foram os únicos que responderam”, conta o ambientalista. A Fetraf, que reúne 150 sindicatos de trabalhadores rurais no sul do país, veio porque um dos pontos do debate será o impacto da lavoura da soja no trabalho e nas comunidades próximas às áreas de produção.

O Maggi veio porque percebeu que seu tamanho – o grupo produz 400 mil toneladas de soja por ano e process 3 mil toneladas do grão por dia – o torna um alvo fácil para os críticos da lavoura. Preocupa-se com sua imagem, mas também quer acompanhar de perto as tendências do mercado. Ainda assim, conta Kruglianskas, sua presença no forum deve-se sobretudo ao relacionamento que a WWF vem estabelecendo com eles há quase um ano, desenvolvendo inclusive alguns trabalhos conjuntos de campo.

A WWF acha que com tantos nomes de peso no forum não será difícil atrair a presença dos principais agentes metidos na cadeia de produção da soja por aqui. Espera que entre 200 e 300 instituições, entre bancos, empresas e Ongs, participem dos debates. Mais informações sobre o forum podem ser conseguidas através do e-mail [email protected]. Breve, a organização do encontro vai colocar no ar uma página de Internet com mais dados sobre o assunto. Seu endereço será www.sustainablesoy.org.

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