Frans Krajcberg dedicou a vida protestando contra o desmatamento, sobretudo o da Mata Atlântica. O artista plástico, polonês, que perdeu a família na Segunda Guerra Mundial, consagrou-se por suas esculturas com troncos e raízes queimadas – símbolos da luta contra a devastação das florestas. No domingo (08), depois da passagem de vândalos e terroristas pelo Palácio do Planalto, da Justiça e Legislativo, na praça dos Três Poderes, em Brasília, uma de suas obras, “Galhos e Sombras”, que integrava um acervo público, foi encontrada vilipendiada, junto a quadros de grandes pintores, como Di Cavalcanti e Portinari.
Para as quase 80 entidades do terceiro setor que publicaram notas de repúdio, a ação foi mais do que um ato contra bens públicos, mas contra a própria democracia. Além das declarações, as entidades também convocaram a população a realizarem protestos na tarde de segunda-feira (9), em apoio ao novo governo eleito, do presidente, Luiz Inácio Lula da Silva e, sobretudo, à democracia. Os atos ocorreram em diversas capitais do país, a grande maioria sob os gritos de “Sem anistia”, em referência a punição dos culpados pelo vandalismo de domingo.
“Não se trata apenas de ataques a prédios públicos, o alvo é a democracia. Uma horda criminosa que perdeu as eleições quer retomar o poder à força. Governo, Congresso e Justiça precisam agir. A democracia não é auto-realizável, depende de vigilância e cuidados constantes. Identificar e punir os responsáveis pelo que ocorreu, os que agiram ou se omitiram, além de seus financiadores, é o mínimo que se espera para a manutenção do Estado Democrático de Direito no país. O projeto bolsonarista de destruição e ódio foi derrotado em 30 de outubro. O resultado das urnas deve ser respeitado”, afirmou em nota o Observatório do Clima.
Entidades da Amazônia que integram o Observatório da BR-319, como WWF, FAS, Opan e Greenpeace também publicaram nota exigindo a identificação e identificação dos organizadores dos atos.
“As ações de barbárie que, infelizmente, vimos mostram como é imperioso o fortalecimento da garantia da continuidade da nossa democracia e o quanto ainda precisamos evoluir como sociedade. É necessário que medidas sejam tomadas a fim de evitar que eles se repitam e para que o ódio e a sanha destruidora que se levanta contra a civilização no Brasil seja defenestrada. Para tanto, é fundamental que os responsáveis por estes atos sejam identificados e exemplarmente punidos. O resultado das eleições de 2022 deve ser respeitado, pois foi alcançado pela vontade da maioria dos eleitores”.
Nesta segunda-feira (09), durante reunião em Brasília com os governadores dos estados, representantes dos prefeitos, presidente do legislativo e ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), o presidente Lula reafirmou que irá punir os responsáveis. Mais de 1500 foram detidas em Brasília no mesmo dia, principalmente na frente de quartéis do Exército.
“O que vimos ontem e quem estava nas ruas e nos quartéis eram pessoas que não tinham pauta de negociação. Estavam nas frentes dos quartéis reivindicando o que? Melhoria na qualidade de vida? Liberdade? Aumento de salário? Construção de habitação? Não, estavam reivindicando golpe. (…) Em São Paulo, na frente do Segundo Exército, lá tinha banheiro químico, lanche, tinha tudo. Como aqui no Distrito Federal. Por isso fui obrigado a tomar uma decisão forte. A polícia de Brasília negligenciou. Havia uma conivência da polícia apoiando as pessoas (…). São 1500 que vão ficar presas e vão ficar lá até acabar o inquérito, até saber quem financiou. Quem pagou? Para as pessoas ficarem tanto tempo. Não é possível um movimento ficar tanto tempo como eles ficaram, sem financiamento, sem gente garantindo o pão, café e janta. Vamos investigar e chegar a quem financiou e vamos descobrir”, disse Lula.
Criminosos ambientais na mira
A conexão dos atos com a questão ambiental foi traçada pelo próprio presidente. Lula aponta que desmatadores, tais como os que Krajcberg lutou a vida toda, são os potenciais patrocinadores dos atos de terrorismo.
“Muita gente que estava lá em Brasília era garimpeiro. Garimpeiros ilegais e madeireiros ilegais. E sabemos porque ele estava lá. Ninguém tem direito de cortar uma árvore na Amazônia de mais de 300 anos, que é dos 215 milhões de brasileiros, para que ele ganhe dinheiro. Se quer cortar uma árvore pra ganhar dinheiro, que plante, espere crescer e dai corte. Mas ele não pode cortar aquilo que é patrimônio de toda humanidade, e sobretudo patrimônio do povo brasileiro. Essa gente estava lá, nesses atos, representa esse agronegócio maldoso, esse que quer utilizar agrotóxico sem nenhum respeito à saúde humana. E essa gente será investigada e punida.”, disse Lula ainda no seu primeiro pronunciamento, quando estava em Araraquara acompanhando estragos causados pelas chuvas no município.
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