Salada Verde

Manguezais da Baía de Sepetiba passarão por ação de limpeza

Com participação de caiçaras da Ilha da Madeira, projeto LimpaOca será realizado durante o período de defeso do caranguejo-uçá no Rio de Janeiro

Júlia Mendes ·
9 de setembro de 2024
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Sua porção fresquinha de informações sobre o meio ambiente

Durante os meses de outubro a dezembro, caiçaras da Ilha da Madeira, no Rio de Janeiro, precisam parar com a atividade de pesca do caranguejo-uçá em função do período de defeso do animal. A prática é um dos principais meios de sustento das comunidades pesqueiras locais. Este ano, durante o defeso, eles ganharão uma renda-extra para contribuir com a redução da poluição marinha na região. Isso porque, em outubro, será realizada a Operação LimpaOca, uma força-tarefa que reunirá a comunidade para retirar resíduos do mar e dará aos moradores uma garantia de renda extra. 

Idealizada por um grupo de caiçaras da Ilha em conjunto com o Projeto Do Mangue ao Mar – uma iniciativa da ONG Guardiões do Mar, em convênio com a Transpetro –, a atividade será uma ação de limpeza na Baía de Sepetiba. Durante os três meses, pescadores e catadores de caranguejo e caiçaras da região receberão uma bolsa-auxílio para realizar as atividades de retirada dos resíduos durante duas manhãs semanais, com período de uma hora e meia de coleta. A seleção dos participantes será feita em parceria com associações de pescas locais e suas lideranças. Serão 63 trabalhadores selecionados. 

“Com o crescimento populacional da região do entorno da Baía de Sepetiba, a ocupação desordenada e o descarte incorreto do lixo aumentam. Com isso, achamos de fundamental importância levar a Operação LimpaOca e os conhecimentos adquiridos junto às comunidades tradicionais para mitigar esses efeitos. Tentamos trabalhar o ambiente em conjunto com pescadores para que não aconteça o que vemos diariamente na Baía de Guanabara, como o grande acúmulo de lixo nos manguezais, entre outros impactos”, destacou o gerente operacional do Projeto do Mangue ao Mar, Rodrigo Gaião.

A atividade é uma replicação da força-tarefa realizada pelo Projeto UÇÁ, que já retirou mais de 58 toneladas de lixo de 51,5 hectares do recôncavo da Guanabara. Reeditada em 2014, a Operação foi idealizada em 2001 por um catador de caranguejo, o Sr. Adílio Campos, da Ilha de Itaoca, e se tornou uma ação contínua da ONG Guardiões do Mar e replicada pelo Projeto UÇÁ, unindo cientistas, pescadores artesanais e catadores de caranguejo, com o apoio da Petrobras.

Além da renda extra garantida aos trabalhadores durante o período de defeso do caranguejo-uçá pela Operação,  de acordo com o presidente da ONG Guardiões do Mar, Pedro Belga, outra vantagem é que, após o defeso, esses profissionais poderão voltar a trabalhar com mais segurança nos manguezais, devido à retirada de materiais como ferro, seringas, vidros e diversos itens cortantes, que podem ocasionar acidentes. “Muito além de catar lixo, conhecimentos são disseminados e também promovemos boas práticas para esta parcela da sociedade que entende, na prática, que o manguezal, além da importância ambiental, é sua principal fonte de renda. Sem mangue, sem peixe”, afirmou

Atualmente, o Projeto Do Mangue ao Mar também realiza uma operação na ‘ilha de lixo’, formada na Baía de Guanabara. Iniciada em junho de 2023 e com previsão de finalização em novembro, a força-tarefa já coletou, em pouco mais de 45 horas de trabalho, mais de 16 toneladas de resíduos da região. A longa duração da ação se deve à grande extensão de área tomada pelo lixo. Além dessas duas operações, o Projeto realizará mais quatro atividades de limpeza durante os períodos de defeso nos próximos 13 meses. Duas em cada Baía (Guanabara e Sepetiba), totalizando três operações em cada. Segundo a organização, as ações envolveram 126 pescadores e caranguejeiros artesanais no total, com previsão de retirada de 35 toneladas de resíduos das duas regiões.

“Com a retirada desse lixo dos manguezais, estamos contribuindo para que o ambiente realize os seus serviços ecossistêmicos de forma mais eficiente fomentando a sociobiodiversidade. E utilizando a mão de obra dos pescadores e catadores de caranguejo, também contribuímos com a socioeconomia”, completou Rodrigo Gaião.

  • Júlia Mendes

    Estudante de jornalismo da UFRJ, apaixonada pela área ambiental e tudo o que a envolve

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