Carlos Terrana, é paulistano 49 anos, começou a fotografar aos 18, quando entrou na Faculdade de Artes plásticas,FAAP. Teve influência direta de Cláudia Andujar e George Love, que revelavam em suas fotos o universo indígena e as paisagens da Amazônia. As imagens de Cláudia e George viraram obsessões na busca pessoal e fotográfica de Terrana, que em 1980 se mudou para Brasília, onde conheceu o Cerrado. E se apaixonou por ele. “Uma das coisas que mais me chamava a atenção eram as inúmeras nascentes, que brotavam por todos os lados. Nem precisávamos levar reserva de água,bebíamos direto, in natura…literalmente”.
Naquele tempo – e atenção: aquele tempo era a década de 80 – pela acidez do solo o Cerrado era visto como uma área pobre, imprestável para a agricultura. Porém, no final da década, a situação começou a mudar rapidamente. Houve um grande avanço tecnológico na correção do solo, no controle de acidez, e na irrigação. Tudo isso trouxe mudanças dramáticas à região. O Centro-Oeste, começou então a se transformar num gigantesco celeiro de grãos. E, com ele, a partir da década de noventa começou a destruição irresponsável e irreversível desse ambiente.
“Quando comecei a fotografar o Cerrado, o meu arquivo era constituído de fotos de fauna, flora, nascentes e cachoeiras”, conta Terrana. Mas nos anos 90 isso mudou tão drasticamente quanto a paisagem. As fotos de Terrana foram naturalmente passaram a registrar queimadas, desmatamentos e destruição. Lugares onde o Cerrado era coalhado de nascentes ficaram assoreados. E árvores magníficas caíram. A fauna riquíssima minguou ou sumiu. Até o horizonte mudou. Era agora um deserto de monocultura verde ou palha, dependendo da estação. Ou seja, cor de soja. A perder de vista.
“Percebi que tinha um acervo fotográfico, o registro histórico de um bioma em franco processo de extinção”, diz Terrana. “Depois de cada viagem que fazia, trazia comigo uma incômoda quantidade de fotos de desmatamentos. O tempo foi passando, com minha indignação aumentando. E me aprofundei ainda mais na pesquisa do bioma Cerrado. Para meu espanto, descobri que a Constituição havia deixado de protegê-lo em seu novo texto de 1988. Há, ainda, uma proposta de emenda à Constituição, feita em 1995, tentando corrigir essa omissão. Por absoluta falta de interesse, ela não consegue ser votada pela Câmara dos Deputados”.
Terrana criou na internet um site sobre a agonia do Cerrado. Batizei de SOS Cerrado. O Eco foi visitá-lo. E colheu no Cerrado de Terrana estas belas e trágicas imagens. O fotógrafo faz questão de dizer que autoriza “o uso das imagens da fauna, flora, nascentes e impactos ambientais por estudantes, para ilustrar trabalhos e pesquisas escolares. Quer que o brasileiro aprenda a ver naquele cenário um Brasil que “está agonizando. Só com uma grande campanha de valorização, utilizando imagens impactantes, teremos alguma chance de tentarmos pelo menos estancar esse processo de destruição sem fim”.
Aos fotógrafos:
“Antes das câmeras digitais, meu equipamento foi a imbatível Nikon F-3, com lente 105 mm f 2,8 Micro. Gosto também da câmera panorâmica Widelux e 35 mm. No médio formato, a Pentax 6×7. Basicamente, uso filme Ektachrome, de ISO 64 ou 100. Gosto muito de filtro polarizador, para eliminar reflexos e saturar melhor as cores. Meu tripé atual é um Slik Carbon-fiber Pro 803. Recentemente, aderi à Canon Rebel Digital, pela facilidade de edição, manipulação das imagens, além do baixo custo. Mas não me desfiz da velha F-3, que sempre que posso levo comigo por segurança”.
Carlos Terrana
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