Salada Verde

Câmara deixa direção do INPE e se diz frustrado

Diretor de órgão responsável pelas taxas oficiais do desmatamento na Amazônia diz que já não tem mais argumentos para convencer governo que deve investir em renovação dos quadros.

Gustavo Faleiros ·
19 de agosto de 2011 · 13 anos atrás
Salada Verde
Sua porção fresquinha de informações sobre o meio ambiente

“Frustrado” foi a palavra que Gilberto Câmara usou para definir seu estado de espírito. Diretor-geral do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), uma das mais renomadas instituições cientifícas brasileiras, o engenheiro decidiu pedir demissão de seu cargo.

Inicialmente indicado para um mandato com duração até 2013, Câmara entregou uma carta ao ministro de Ciência e Tecnologia, Aloízio Mercadante, pedindo que um comitê de busca seja instalado e defina a substituição da chefia do INPE até o fim deste ano.

Gilberto Câmara, durante em entrevista na Cúpula de Copenhague em 2009. (foto: Gustavo Faleiros)
Gilberto Câmara, durante em entrevista na Cúpula de Copenhague em 2009. (foto: Gustavo Faleiros)

Ele falou com ((o))eco na manhã de ontem e disse que sua decisão é definitiva. “Estou frustrado com a falta de renovação nos quadros do INPE”, disse explicando qual foi a razão que o levou a pedir demissão. Segundo ele, existe um “desgaste” após 6 anos no cargo que o leva a abandonar o posto e voltar para a cadeira de pesquisador do instituto. “Não sei mais o que fazer para convencer o governo de que é preciso contratar pessoal no INPE. Há mais 10 anos que não há um novo concurso”, lamentou.

Não houve, disse Câmara, motivação política em sua saída. Ele nega que divergências com o presidente da Agência Espacial Brasileira (AEB), Marco Antônio Raupp, teriam sido o estopim de sua decisão.

O engenheiro garante que as mudanças na direção do INPE não afetam programas de lançamento de novos satélites, como o Amazônia 1 – que vai melhorar a vigilância do desmatamento – e o CBERS 3 – mais um da bem sucedida série de equipamentos feitos em parceria com os chineses. “O INPE tem uma tradição de continuidade de seus projetos mesmo depois da troca de diretores”, comenta .

Perguntei a ele, se seu anúncio de demissão poucas semanas antes do fechamento do número oficial do desmatamento seria mais do que mera coincidência. “Não há nenhum problema aí, as medições do desmatamento continuam ocorrendo normalmente”, afirmou. Nesta última quinta, o INPE divulgou o número do desmatamento em julho e até o fim dos ano divulga a taxa oficial, medida pelo programa Prodes.

Câmara é um ferrenho defensor da política de transparência de dados do desmatamento e, em 2008, envolveu-se em uma polêmica quando Blairo Maggi e até o próprio presidente Lula levantaram dúvidas sobre os números do desmatamento no Mato Grosso, que voltavam a subir segundo o INPE. Como resultado da disputa, o programa Deter (Detecção de Desmatamento em Tempo Real) passou a divulgar não mais apenas dados sobre corte razo na Amazônia, mas também sobre degradação florestal.

*Gustavo Faleiros com colaboração de Daniel Santini

Saiba mais
Site do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais – INPE

{iarelatednews articleid=”10965, 15954,23094″}

  • Gustavo Faleiros

    Editor da Rainforest Investigations Network (RIN). Co-fundador do InfoAmazonia e entusiasta do geojornalismo. Baterista dos Eventos Extremos

Leia também

Notícias
20 de dezembro de 2024

COP da Desertificação avança em financiamento, mas não consegue mecanismo contra secas

Reunião não teve acordo por arcabouço global e vinculante de medidas contra secas; participação de indígenas e financiamento bilionário a 80 países vulneráveis a secas foram aprovados

Reportagens
20 de dezembro de 2024

Refinaria da Petrobras funciona há 40 dias sem licença para operação comercial

Inea diz que usina de processamento de gás natural (UPGN) no antigo Comperj ainda se encontra na fase de pré-operação, diferentemente do que anunciou a empresa

Reportagens
20 de dezembro de 2024

Trilha que percorre os antigos caminhos dos Incas une história, conservação e arqueologia

Com 30 mil km que ligam seis países, a grande Rota dos Incas, ou Qapac Ñan, rememora um passado que ainda está presente na paisagem e cultura local

Mais de ((o))eco

Deixe uma resposta

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.