Reportagens

Os cogumelos-ostra de Sumaco

Uma iniciativa apoiada pela cooperação alemã em meio a Amazônia Equatoriana mostra um caminho para quebrar o ciclo vicioso de criação de gado e degradação da floresta. Além disso enriquece a dieta dos camponeses.

Rosalía Arteaga Serrano ·
27 de março de 2010 · 15 anos atrás

Há alguns dias atrás, tive a oportunidade de viajar por terra à cidade de Tena, capital de Napo, na Amazônia Equatoriana.

Esta estrada sinuosa construída em pavimento rígido, de forma a evitar as contínuas deteriorações que sofria esta rota, e que nos conduz por longos quilômetros, desperta a curiosidade dos locais e estrangeiros. A construção de espaços dedicados ao turismo vem aumentando nesta área ao longo do tempo.

Antes de chegar à Tena, pequenos toldos como se fossem estufas chamam a atenção e podem ser observados do lado esquerdo da estrada.

Ao parar ao lado da estrada, nos informamos que realmente tratam-se de estufas rústicas onde são cultivados cogumelos, denominados cogumelos- ostra, cuja produção de mais alta tecnologia e com objetivo de abastecimento do mercado nacional e internacional, teve início no ano de 2007 envolvendo camponeses da região, com vista a melhorar, tendo a produção como fonte complementar, suas respectivas rendas.

Uma produtora na Amazônia equatoriana: levar cogumelos para a cozinha pode proteger a floresta e enriquecendo a dieta dos camponeses

Sumaco é uma reserva da biosfera e constitui também parte do Parque Nacional Sumaco Napo-Galeras e do Projeto Gran Sumaco, cuja preocupação por sustentabilidade na área, inclui proporcionar renda à comunidade. Os camponeses, em geral migrantes das províncias das montanhas equatorianas, têm se dedicado tradicionalmente à criação e pastagem do gado, tipo de agropecuária que tem um começo rentável, porém que deteriora o solo, fazendo com que se torne uma ameaça ao princípio de sustentabilidade que é tido como parâmetro em áreas de preservação, como esta.

O cultivo dos cogumelos aparenta ser uma iniciativa válida desde o ponto de vista econômico ao de sustentabilidade, uma vez que é uma atividade que não ameaça o solo, pois permite que se mantenha a mata por serem cultivados em pequenas estufas que não necessitam de vastas áreas para sua implementação, não ocasionando, desta forma, o desmatamento e a conseqüente ameaça à produção de água e à biodiversidade.

Pressões em Napo

Napo, assim como toda a Amazônia equatoriana, está sujeita a inúmeras pressões: madeireiros ilegais, crescimento urbano, construções de estradas. Também há a presença de colonos que se estende desde os Andes até a Colômbia.

Ao penetrar na pequena estufa, encontramos além do forte cheiro de umidade, prateleiras alinhadas sob as paredes rudimentares das frágeis instalações com sacos colocados com a boca pra frente, como garrafas, que permitem que se observe e até que se toque uma substância branca de onde brotam os famosos cogumelos-ostra.

Inteiramo-nos a despeito da produção dos cogumelos tipo ostra, que é realizada a partir de esporos semeados em uma espécie de cama ou compostagem de resíduos de madeira reciclada (serragem), farelo de trigo ou de arroz e carbonato de cálcio, que são então pasteurizados.

A iniciativa, que teve apoio da cooperação alemã, tem sido positiva. Contudo, ao conversar com os produtores de cogumelo-ostra, soubemos que são poucos os que persistem na tarefa, as mais de cem famílias inicialmente envolvidas no projeto, não passam da casa dos trinta agora.

As razões do desânimo estão provavelmente ligadas à política inadequada de comercialização, que fica a cargo dos intermediários, ou à busca por atividades mais rentáveis pelos camponeses.

Em todo o caso, são dadas as possibilidades de crescimento do setor, desde que os apoios oficiais façam-se presentes e não se interrompa uma política de continuidade a esta importante forma de complementação de renda das famílias, que também é responsável pelo enriquecimento da dieta, com proteínas, da população desta e de outras regiões. (tradução Tamiris Sato)

Rosalía Arteaga Serrano é diretora-executiva da Fundación Natura Regional. Foi presidente e vice-presidente do Equador nos anos 90 e secretária-geral da Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA)

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