“Quem não anda, desanda.” Com esse ditado popular o ecologista Paulo Nogueira Neto explica ao mesmo tempo a sua agenda cheia, seus projetos para o futuro, e sua grande vitalidade. Aos 83 anos de idade, ele orienta alunos de pós-graduação do Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo, e só não dá mais aulas por que as normas da USP o impedem de fazê-lo. É membro do Conselho Nacional do Meio-Ambiente (Conama) e do Conselho Estadual do Meio Ambiente (Consema) do estado de São Paulo, entre outras atividades. E encontrou um tempinho para receber o Eco em sua casa no Morumbi, observado pelos pica-paus e bem-te-vis que freqüentam o seu jardim.
Durante os 13 anos em que dirigiu a SEMA – Secretaria do Meio Ambiente – Nogueira Neto criou o sistema ambiental do Brasil. Hoje acredita que a burocracia federal precisa de reformas para cumprir seu papel. “O Ibama tem um excesso de atribuições. Nos Estados Unidos, são quatro os órgãos do governo federal para fazer o que o Ibama faz.” Nogueira Neto via com receio a concessão de florestas públicas para a exploração madeireira, mas hoje simpatiza com o Projeto de Lei de Gestão de Florestas Públicas: “Pior do que está não dá para ficar. E o PL cria o Serviço Florestal Brasileiro, que pode ser a base para criar o Serviço Brasileiro da Biodiversidade.”
Nogueira Neto acredita que é preciso ser moderadamente otimista – por que os otimistas empreendem e realizam, mas otimismo em excesso já é ingenuidade. Dentro desse espírito, ele planeja novas unidades de conservação, necessárias por que não vai sobrar muita biodiversidade fora delas. Há recursos para isso – ele cita um programa da Fundação Moore, através da WWF e do Funbio, para financiar estudos para a criação de novas UCs na Amazônia. O objetivo é levar a cobertura do território protegido dos atuais 6% para 20%. Talvez não seja suficiente para impedir que o regime de chuvas na região se altere, mas seria um grande progresso.
No estado de São Paulo também há razões para se animar. A crescente mecanização da agricultura no estado está fazendo com que grandes extensões de terra deixem de ser cultiváveis. Terreno íngreme comporta enxada, mas não comporta máquinas agrícolas. O resultado é que a cobertura florestal do estado está crescendo, contra todas as expectativas, e de maneira sustentável.
Talvez seja o momento oportuno para lançar mais um projeto de conservação no estado, e Nogueira Neto já está estudando mais uma proposta inovadora: criar uma rede de Áreas de Relevante Interesse Ecológico englobando as centenas de fragmentos de floresta e de cerrado ainda existentes sem descuidar do interesse econômico dos seus proprietários, oferecendo-lhes a oportunidade de explorar pousadas ecoambientais nas áreas protegidas. Um verdadeiro esquema de parceria entre o público e o privado.
A influência de Nogueira Neto vai bastante além do Brasil. como membro da Comissão Brundtland (1983-87), ele é um dos pais da expressão “desenvolvimento sustentável.” Mesmo diante da ameaça da mudança climática, ele acredita em saídas para o Brasil: a única maneira de reduzir a concetração de carbono na atmosfera é plantar árvores, e o Brasil pode usar o mecanismo de desenvolvimento limpo do Protocolo de Kyoto para fazê-lo. Não se deixa desanimar pela negativa do governo americano ao Protocolo, lembrando que a Califórnia e outros estados estão lutando para reduzir emissões.
Ele encara com bom humor as freqüentes homenagens e prêmios que tem recebido. Sua perspectiva transparece quando fala do período que morou em Brasília. Diz que gostou muito do convívio com a comunidade diplomática da capital: “éramos frequentemente convidados para freqüentar as embaixadas. Não por minha causa, mas por minha esposa, que era excelente jogadora de bridge.”
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