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“Hoje é dia do Cerrado, mas não vou comemorar”

Acordei na Serra da Canastra neste dia de homenagem ao Cerrado e, ironia, recebo de cara a notícia de autorização para mais desmatamento.

11 de setembro de 2013 · 10 anos atrás
  • Adriano Gambarini

    É geólogo de formação, com especialização em Espeleologia. É fotografo profissional desde 92 e autor de 14 livros fotográfico...

Margem do Rio Parnaíba, MA. Fotos: Adriano Gambarini | Clique para ampliar
Margem do Rio Parnaíba, MA. Fotos: Adriano Gambarini

Acordei na Serra da Canastra. Pensei neste dia, em homenagem ao Cerrado. Ironicamente abro minha caixa postal e vejo um documento emitido por um responsável técnico dos órgãos ambientais, dando parecer positivo ao desmate de uma grande área de Cerrado do oeste mineiro. Ou melhor, o pouco que resta deste importante bioma naquela região. A explanação referente à área é tão chinfrim, para não dizer outro adjetivo mais ofensivo, que a frase sobre a fauna existente cita 4 ou 5 espécies, pasmem, vulneráveis ou ameaçadas, e finaliza com um simples ‘etc’. Ou seja, a diversidade faunística do Cerrado, comprovadamente como uma das maiores do mundo, é resumida a três letras.

Não há o que comemorar. Nestes últimos 3 meses viajei pelos Estados de Minas Gerais, Goiás, Bahia e Mato Grosso e efetivamente o que vi foram áreas extensas cobertas com monocultura e pecuária. E como se não bastasse o regaço feito nos campos de cerrado e rupestres destes lugares, estão articulando mudanças nos fluxos dos rios para que a tão vangloriada (pelo governo) produção de grãos mato-grossense seja mais facilmente escoada para o outro lado do mundo.

De acordo com a WWF-Brasil, 40% do Cerrado brasileiro estão ocupados pela agropecuária, e ao todo, o bioma já perdeu mais da metade da vegetação original. E para piorar, menos de 3% desta savana brasileira estão protegidos de fato.

Decididamente, não há o que festejar. Só um lamento pelas espécies que desaparecem sem ao menos serem descobertas e identificadas. Só um desconsolo pelas espécies conhecidas com cada vez menos área para sobreviver e proliferar. Só um triste futuro sem luz no final do túnel. Ou melhor, luz há de ter… do fogo das queimadas. Por isto, este ensaio não vai ter fotos de ‘bichos fofinhos’ ou ‘paisagens nostálgicas’. O que se vive hoje é o Dia de permanente melancolia pelo que um dia foi o Cerrado brasileiro.

 

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