Em discurso na Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas, na tarde de quarta-feira (5), o presidente da 30ª Conferência do Clima da ONU (COP 30), embaixador André Corrêa do Lago, anunciou as prioridades do Brasil para a Cúpula deste ano, a ser realizada em novembro na cidade de Belém (PA).
Questões como defesa da Ciência e do multilateralismo, metas climáticas mais ambiciosas, financiamento e adaptação foram alguns dos temas levantados por Corrêa do Lago na reunião.
“A escolha da Assembleia Geral como minha primeira viagem oficial fora do Brasil não é uma coincidência, mas um sinal claro de que a defesa do multilateralismo estará no cerne da presidência brasileira da COP. O respeito pela Ciência será outro pilar da nossa presidência”, disse.
A fala é uma resposta claras aos questionamentos que têm sido travados em nível internacional sobre a eficácia das Conferências do Clima, colocadas à prova com a saída dos Estados Unidos do Acordo de Paris e com o levante de governos avessos ao multilateralismo e à ciência, como é o caso do próprio Donald Trump e de Javier Milei, na Argentina.
“O Brasil tem a firme convicção de que não há progresso futuro para a humanidade sem uma cooperação profunda, rápida e sustentada entre todos os países”, disse Corrêa do Lago.
O embaixador lembrou que a COP30 será realizada em um ano de vários marcos: o 80º aniversário das Nações Unidas, 20 anos desde a entrada em vigor do Protocolo de Kyoto e 10 anos da adoção do Acordo de Paris. Ela também acontece logo após o mundo ter registrado, pela primeira vez, um aumento médio da temperatura da terra superior aos 1,5ºC.
Segundo Corrêa do Lago, a tarefa do Brasil será fortalecer a governança climática e fornecer agilidade, preparo e antecipação na tomada de decisões e na implementação de ações.
Para isso, ele diz esperar que a COP30 possa fornecer um “impulso decisivo” em três dimensões: proteger e expandir o ambiente de negociações, conectar à vida real a abstração dos debates e decisões das COPs e acelerar a implementação do Acordo de Paris.
“Devemos puxar decisivamente as alavancas dos processos, mecanismos e órgãos do nosso regime para alinhar esforços dentro e fora da UNFCCC com os objetivos de longo prazo do Acordo de Paris sobre temperatura, resiliência e fluxos financeiros. Isso inclui NDCs ambiciosas, alinhadas com o objetivo de longo prazo de Paris. Os líderes nacionais devem honrar sua decisão de buscar esforços para limitar o aumento da temperatura a 1,5°C. Vidas humanas dependem disso, empregos futuros dependem disso, ambientes saudáveis dependem disso”, disse.
O presidente da COP30 também disse que o Brasil está “ansioso” para trabalhar com o Azerbaijão nas discussões sobre financiamento, tema principal da COP29 cujo resultado ficou muito aquém do esperado, fazendo com que o tópico fosse “herdado” pela nova presidência.
“Juntos, produziremos um relatório resumindo nosso trabalho até a COP30. O Roteiro deve servir como um ponto de apoio para alavancar financiamentos para caminhos de baixo carbono e resiliência climática nos países em desenvolvimento […] vamos da COP29 para a COP30 não apenas com um Livro de Regras completo para o Acordo de Paris, mas também com seu ciclo de políticas totalmente em movimento.”
Por fim, André Corrêa do Lago disse que o Brasil trabalhará pela ação. “Reuniremos negociadores, governos nacionais e subnacionais, sociedade civil, setor privado e outras partes interessadas para participar de um exercício sobre como traduzir os 10 anos de Paris em realizações palpáveis e incentivos para continuar agindo e fortalecer o regime multilateral”, disse.
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