O governo federal anunciou, no início da tarde desta terça-feira (21), o Embaixador André Corrêa do Lago para a presidência da 30ª Conferência do Clima da ONU. O nome era esperado há vários meses e havia um certo descontentamento com a demora, mas organizações da sociedade civil comemoraram a escolha.
Além de Corrêa do Lago, também comandará a COP30 a secretária de Mudança do Clima do Ministério do Meio Ambiente, Ana Toni, que foi designada para a diretoria executiva do evento.
“Dificilmente haveria uma dupla com mais estatura para desempenhar a missão”, disse o Observatório do Clima, rede da sociedade civil brasileira que reúne mais de uma centena de integrantes, entre ONGs ambientalistas, institutos de pesquisa e movimentos sociais.
Para o Instituto Clima e Sociedade (iCS), a experiência da diplomacia brasileira no âmbito internacional poderá garantir bons resultados nos diferentes temas que estarão em pauta na COP30.
“Acreditamos que, com a excelência que a diplomacia brasileira transita no contexto global, iremos, todos, vencer os desafios de alinhar os compromissos de países desenvolvidos e em desenvolvimento em relação ao financiamento climático, garantir que as metas de redução de emissões sejam compatíveis com a ciência climática e lidar com os impactos socioeconômicos das mudanças climáticas em populações vulneráveis”, disse a organização, em nota.
A Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura também destacou a capacidade diplomática de Corrêa do Lago. “Diplomata de ampla experiência e profundo domínio da agenda climática, ele reúne as qualidades essenciais para exercer essa função. Tem, ainda, um sólido diálogo com organizações da sociedade civil e do setor privado. Sua liderança está à altura do grande desafio que representa a organização da COP mais crucial dos últimos dez anos, em um momento decisivo para o multilateralismo global”, disse Carolle Alarcon, gerente executiva da Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura.
Já o Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM) celebrou “com entusiasmo” o nome escolhido por Lula para presidir a COP30. “O atual secretário do Clima, Energia e Meio Ambiente do Ministério das Relações Exteriores apresenta capacidade e experiência necessária e está à altura da árdua missão de ajudar o país a mediar os temas complexos, construir diálogos mundiais de alto nível e superar o desafio para construir consenso em torno da agenda climática”, disse a organização, também em nota.

Brasília – DF. Foto: Ricardo Stuckert/PR
Grandes desafios
Apesar do entusiasmo com a nomeação do Embaixador André Corrêa do Lago para a presidência da COP30, a sociedade civil destaca também os grandes desafios que ele terá de enfrentar na condução das negociações climáticas internacionais em 2025. Tempo e contexto geopolítico são os maiores deles.
O ano de 2024 foi considerado o mais quente em que se tem registros e é o primeiro em que o aumento da temperatura da terra ultrapassou o limite de 1,5ºC estabelecido pela ciência para que as consequências do aquecimento global não saiam de controle.
No ano passado, o aumento médio da temperatura da terra ficou em 1,6ºC. Eventos extremos foram registrados em todo o globo. Apenas os 10 principais eventos climáticos extremos do ano passado deixaram prejuízo de 229 milhões de dólares e mais de dois mil mortos. No Brasil, o impacto das chuvas extremas afetou o Rio Grande do Sul, enquanto a seca e os incêndios atingiram a Amazônia em 2024, lembra a WWF.
“Para enfrentar a emergência climática com a celeridade e a ambição necessárias. o presidente da COP30 precisará garantir que a conferência seja um espaço de diálogo e de construção coletiva, superando divergências entre países desenvolvidos e em desenvolvimento, e valorizando as vozes de povos indígenas, populações periféricas, comunidades quilombolas e tradicionais nos processos de tomada de decisão”, diz a organização.
A nomeação de Corrêa do Lago também acontece apenas um dia após o maior emissor histórico de gases estufa do planeta, os Estados Unidos, confirmarem a saída do Acordo de Paris.
O Observatório do Clima lembra que a COP30 acontece num contexto de desconfiança máxima e cooperação mínima entre os países, na esteira do fracasso da COP29 em definir uma meta ambiciosa para o financiamento climático, com o declínio na liderança da União Europeia e com os Estados Unidos jogando ativamente conta.
“Caberá à dupla de presidência da COP – em simbiose com a “dona” da agenda, a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva – navegar a tormenta geopolítica e ao mesmo tempo desviar dos icebergs domésticos: a própria demora de Lula em fechar o nome do presidente da COP sinaliza menos consenso no Planalto sobre a relevância do evento do que pareceu em 2022, quando o presidente mostrou disposição de preencher o vácuo de liderança climática global no clima. E cria uma pressão adicional de tempo para a montagem da agenda e a costura entre os países”, disse o OC.
Novo presidente da COP30
Formado em economia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), André Corrêa do Lago ingressou na carreira diplomática em 1982. Desempenhou funções no Brasil e no exterior, em áreas como energia, clima e meio ambiente, perante organismos internacionais e na promoção comercial do Brasil.
No Ministério das Relações Exteriores, chefiou os departamentos de Energia e de Meio Ambiente. Foi negociador-chefe do Brasil em diversas conferências ambientais e climáticas e também na Rio+20. Serviu nas embaixadas em Madri, Praga, Washington e Buenos Aires e na Missão junto à União Europeia, em Bruxelas. Foi embaixador do Brasil no Japão (2013-2018) e na Índia (2018-2023).
Desde março de 2023, exerce o cargo de Secretário de Clima, Energia e Meio Ambiente do Itamaraty, tendo sido negociador-chefe da delegação brasileira na COP28 (Dubai, EAU) e na COP29 (Baku, Azerbaijão) da UNFCCC.
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