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“Decisão acertada”, dizem organizações sobre escolha de Corrêa do Lago como presidente da COP30

Embaixador contará com ajuda de Ana Toni, anunciada como CEO da Conferência do Clima no Brasil. Veja reação da sociedade civil sobre o anúncio

Cristiane Prizibisczki ·
21 de janeiro de 2025

O governo federal anunciou, no início da tarde desta terça-feira (21), o Embaixador André Corrêa do Lago para a presidência da 30ª Conferência do Clima da ONU. O nome era esperado há vários meses e havia um certo descontentamento com a demora, mas organizações da sociedade civil comemoraram a escolha.

Além de Corrêa do Lago, também comandará a COP30 a secretária de Mudança do Clima do Ministério do Meio Ambiente, Ana Toni, que foi designada para a diretoria executiva do evento.

“Dificilmente haveria uma dupla com mais estatura para desempenhar a missão”, disse o Observatório do Clima, rede da sociedade civil brasileira que reúne mais de uma centena de integrantes, entre ONGs ambientalistas, institutos de pesquisa e movimentos sociais. 

Para o Instituto Clima e Sociedade (iCS), a experiência da diplomacia brasileira no âmbito internacional poderá garantir bons resultados nos diferentes temas que estarão em pauta na COP30.

“Acreditamos que, com a excelência que a diplomacia brasileira transita no contexto global, iremos, todos, vencer os desafios de alinhar os compromissos de países desenvolvidos e em desenvolvimento em relação ao financiamento climático, garantir que as metas de redução de emissões sejam compatíveis com a ciência climática e lidar com os impactos socioeconômicos das mudanças climáticas em populações vulneráveis”, disse a organização, em nota.

A Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura também destacou a capacidade diplomática de Corrêa do Lago. “Diplomata de ampla experiência e profundo domínio da agenda climática, ele reúne as qualidades essenciais para exercer essa função. Tem, ainda, um sólido diálogo com organizações da sociedade civil e do setor privado. Sua liderança está à altura do grande desafio que representa a organização da COP mais crucial dos últimos dez anos, em um momento decisivo para o multilateralismo global”, disse Carolle Alarcon, gerente executiva da Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura.

Já o Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM) celebrou “com entusiasmo” o nome escolhido por Lula para presidir a COP30. “O atual secretário do Clima, Energia e Meio Ambiente do Ministério das Relações Exteriores apresenta capacidade e experiência necessária e está à altura da árdua missão de ajudar o país a mediar os temas complexos, construir diálogos mundiais de alto nível e superar o desafio para construir consenso em torno da agenda climática”, disse a organização, também em nota.

Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, durante reunião com o Embaixador André Correa no Palácio do Planalto.
Brasília – DF. Foto: Ricardo Stuckert/PR

Grandes desafios

Apesar do entusiasmo com a nomeação do Embaixador André Corrêa do Lago para a presidência da COP30, a sociedade civil destaca também os grandes desafios que ele terá de enfrentar na condução das negociações climáticas internacionais em 2025. Tempo e contexto geopolítico são os maiores deles.

O ano de 2024 foi considerado o mais quente em que se tem registros e é o primeiro em que o aumento da temperatura da terra ultrapassou o limite de 1,5ºC estabelecido pela ciência para que as consequências do aquecimento global não saiam de controle. 

No ano passado, o aumento médio da temperatura da terra ficou em 1,6ºC. Eventos extremos foram registrados em todo o globo. Apenas os 10 principais eventos climáticos extremos do ano passado deixaram prejuízo de 229 milhões de dólares e mais de dois mil mortos. No Brasil, o impacto das chuvas extremas afetou o Rio Grande do Sul, enquanto a seca e os incêndios atingiram a Amazônia em 2024, lembra a WWF.

“Para enfrentar a emergência climática com a celeridade e a ambição necessárias. o presidente da COP30 precisará garantir que a conferência seja um espaço de diálogo e de construção coletiva, superando divergências entre países desenvolvidos e em desenvolvimento, e valorizando as vozes de povos indígenas, populações periféricas, comunidades quilombolas e tradicionais nos processos de tomada de decisão”, diz a organização.

A nomeação de Corrêa do Lago também acontece apenas um dia após o maior emissor histórico de gases estufa do planeta, os Estados Unidos, confirmarem a saída do Acordo de Paris.

O Observatório do Clima lembra que a COP30 acontece num contexto de desconfiança máxima e cooperação mínima entre os países, na esteira do fracasso da COP29 em definir uma meta ambiciosa para o financiamento climático, com o declínio na liderança da União Europeia e com os Estados Unidos jogando ativamente conta.

“Caberá à dupla de presidência da COP – em simbiose com a “dona” da agenda, a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva – navegar a tormenta geopolítica e ao mesmo tempo desviar dos icebergs domésticos: a própria demora de Lula em fechar o nome do presidente da COP sinaliza menos consenso no Planalto sobre a relevância do evento do que pareceu em 2022, quando o presidente mostrou disposição de preencher o vácuo de liderança climática global no clima. E cria uma pressão adicional de tempo para a montagem da agenda e a costura entre os países”, disse o OC.

Novo presidente da COP30

Formado em economia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), André Corrêa do Lago ingressou na carreira diplomática em 1982. Desempenhou funções no Brasil e no exterior, em áreas como energia, clima e meio ambiente, perante organismos internacionais e na promoção comercial do Brasil.

No Ministério das Relações Exteriores, chefiou os departamentos de Energia e de Meio Ambiente. Foi negociador-chefe do Brasil em diversas conferências ambientais e climáticas e também na Rio+20. Serviu nas embaixadas em Madri, Praga, Washington e Buenos Aires e na Missão junto à União Europeia, em Bruxelas. Foi embaixador do Brasil no Japão (2013-2018) e na Índia (2018-2023).

Desde março de 2023, exerce o cargo de Secretário de Clima, Energia e Meio Ambiente do Itamaraty, tendo sido negociador-chefe da delegação brasileira na COP28 (Dubai, EAU) e na COP29 (Baku, Azerbaijão) da UNFCCC.

  • Cristiane Prizibisczki

    Cristiane Prizibisczki é Alumni do Wolfson College – Universidade de Cambridge (Reino Unido), onde participou do Press Fellow...

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