A Refauna, ong de biólogos que atua na reintrodução de espécies, abriu uma campanha de financiamento coletivo para custear a reintrodução de araras-canindés no Parque Nacional da Tijuca. O objetivo da campanha é arrecadar R$ 250 mil para cobrir o primeiro ano de atividades do projeto, que exige uma equipe de três biólogos, veterinário, exames sanitários, instalação de ninhos artificiais, armadilhas fotográficas e equipamentos eletrônicos de rastreamento.
A campanha está hospedada no site Benfeitoria. Quem quiser participar basta se cadastrar e escolher a faixa de doação, que vai de R$ 50 a R$ 1500. A cada contribuição corresponde uma recompensa, que vai de uma ecobag até, nos valores mais altos, uma foto dos fotógrafos de natureza Vitor Marigo ou Flávia Zagury, impressa em tamanho pôster e em papel de algodão.
O objetivo do Refauna é recuperar ecossistemas trazendo de volta animais dispersores de sementes que foram extintos localmente. É o caso da arara-canindé. Ela não é vista no estado do Rio de Janeiro desde 1818, quando foi avistada pelo naturalista prussiano Johann Natterer (1787-1843).
A arara-canindé é uma excelente dispersora de sementes grandes, como as das palmeiras. Ela é capaz de voar até 25 km com um fruto e sua semente no bico. Ela chega agora ao Parque Nacional da Tijuca depois de reintroduções anteriores, feitas lá pelo Refauna — da cutia-vermelha (Dasyprocta leporina), do bugio (Alouatta guariba) e do jabuti-tinga (Chelonoidis denticulatus) —, todos bons dispersores de sementes. Na Mata Atlântica, bioma do parque, 90% da flora depende de animais para se reproduzir.
Atualmente, já chegaram quatro araras-canindé – um macho e três fêmeas – vivendo em um recinto de aclimatação dentro do parque, onde se preparam para serem soltas na natureza. Em 2026, dependendo dos recursos disponíveis, podem chegar mais 12 animais.

As araras-canindé selecionadas para o projeto foram meticulosamente avaliadas. Além de testes clínicos para doenças como circovírus, bornavirus, clamídia e gripe aviária, os quatro pássaros foram submetidos a exames comportamentais. O objetivo foi avaliar suas capacidades de sobreviver em vida livre, e assegurar que fossem pouco habituadas a humanos.
A organização Refauna atua desde 2010 para reintroduzir espécies extintas localmente em remanescentes da Mata Atlântica. Além do projeto do Parque Nacional da Tijuca, a organização trabalha também na reintrodução de antas (Tapirus terrestris), na Reserva Ecológica de Guapiaçu (REGUA).
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