Notícias

Ilegalidade atinge quase 80% do desmatamento registrado em Mato Grosso em 2022

Estado reduziu em 13,8% perda florestal de 2021 para 2022, mas taxa registrada pelo INPE ainda é a segunda mais alta da última década

Cristiane Prizibisczki ·
8 de dezembro de 2022 · 1 anos atrás

O Mato Grosso conseguiu reduzir em 13,8% o desmatamento no bioma amazônico dentro de seu território entre 2021 e 2022. O número, medido pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), foi comemorado pelo governo mato-grossense, que atribuiu a queda aos investimentos estaduais em ações de comando e controle no estado. Um estudo divulgado pelo Instituto Centro de Vida (ICV) nesta quinta-feira (8), no entanto, mostra que as ações do governo de Mauro Mendes (União Brasil) não têm sido suficientes para conter o desmatamento ilegal, que chegou a quase 80% no período.

Entre agosto de 2021 e julho de 2022, o Mato Grosso perdeu 1.906 km² de floresta amazônica – área equivalente a uma vez e meia a cidade do Rio de Janeiro. O número representou 16,5% de tudo que foi desmatado na Amazônia no período (11.568 km²) e colocou o Mato Grosso na terceira posição do ranking de estados desmatadores, atrás do Pará e Amazonas.

Em 2021, o Mato Grosso perdeu 2.213 km² de floresta, o que o deixou empatado com o Amazonas na segunda posição do ranking do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais.

Para o governo do Mato Grosso, a redução é resultado de uma política de tolerância zero com o desmate ilegal, dos investimentos do governo federal na fiscalização, da eficiência do licenciamento ambiental e do monitoramento feito por satélite.

“Neste ano, foram mais de R$ 60 milhões investidos em ações de combate e controle, mas também em estratégias de prevenção ao desmatamento, como o desaparelhamento de infratores com a apreensão de maquinários, e operações com foco em identificar e frear o desmatamento ainda no início”, justificou o secretário Executivo da Sema, Alex Marega, em nota publicada pelo governo mato-grossense na semana passada, quando os números do INPE foram divulgados.

Segundo a administração de Mauro Mendes, outro fator positivo foi o licenciamento ambiental, que teria contribuído para a legalidade no campo. “No primeiro trimestre deste ano [2022], a abertura legal de áreas chegou a 38% do desmate registrado no estado. Este índice era de cerca de 5% em 2018”, continuou o governo de Mato Grosso.

Ilegalidade

A análise realizada pelo ICV, no entanto, mostrou o outro lado da moeda: no período analisado pelo INPE para determinar a taxa anual de desmatamento, 78% dos 1.906 km² derrubados no Mato Grosso ocorreram de forma ilegal nesta unidade da federação.

A organização de fato qualificou como “expressivo” o aumento nas ações de fiscalização estaduais, que aumentaram em 104% em 2022, em relação a 2019 (3.183 autos de infrações este ano, contra cerca de 1.500 em 2019), sendo que 59% deles ocorreram no bioma Amazônia.

Mas isso não é o suficiente, diz o ICV. A taxa de desmatamento alcançada no estado em 2022 é a segunda maior desde 2009, só perdendo para o ano passado. “Essa taxa de desmatamento ainda é bastante elevada, sobretudo quando se compara com o período entre 2008 e 2020”, diz a organização.

No intervalo de tempo destacado pelo ICV, o Mato Grosso conseguiu reduções expressivas no desmatamento, chegando ao menor valor registrado em 2010, quando foram desmatados 871 km².

Além disso, o Instituto Centro de Vida lembra que o cenário atual mantém o Mato Grosso distante de alcançar as metas estabelecidas em seus planos e estratégias estaduais e do compromisso internacional assumido na Conferência do Clima em Paris, em 2015, quando o estado se comprometeu com a meta de 571 km² por ano até 2030.

Características do desmatamento em MT

A análise do ICV mostrou que os 1.906 km² desmatados em 2022 ocorreram dentro de 5,8 mil polígonos, sendo a maioria em grandes propriedades rurais: 185 polígonos com mais de 200 hectares foram responsáveis por 44% de toda área desmatada.

A maior parte do desmatamento (72%) ocorreu em imóveis registrados como propriedades privadas, segundo a nota técnica. A seguir vêm as áreas ainda não cadastradas (19%), assentamentos (8%) e áreas protegidas – Terras Indígenas e Unidades de Conservação (UC´s) –, com 1,6%.

Dentre as UCs desmatadas, o destaque foi para o Parque Estadual Cristalino II, alvo recente de um imbróglio jurídico que pode levar à sua extinção. Nesta unidade, foram registrados 4,3 km² de desmatamento.

Entre os municípios mato-grossenses, o campeão segue sendo Colniza, no noroeste do estado, que respondeu por 20% de todo desmatamento mapeado em Mato Grosso em 2022, e 3,3% de tudo o que foi desmatado na Amazônia Legal.

Alternativas

Se as ações de comando e controle não estão dando conta do cenário de altas taxas de desmatamento ilegal, qual seria a solução para Mato Grosso? Segundo Ana Paula Valdiones, coordenadora do Programa de Transparência Ambiental do ICV e uma das autoras da nota técnica, a resposta está nas soluções baseadas na natureza.

“Os instrumentos de comando e controle são importantes, mas não bastam para transformar o cenário atual. Além da fiscalização, é necessário o desenvolvimento de alternativas econômicas baseadas na manutenção da floresta em pé para essas regiões onde se concentra o desmatamento no estado”, diz.

  • Cristiane Prizibisczki

    Cristiane Prizibisczki é Alumni do Wolfson College – Universidade de Cambridge (Reino Unido), onde participou do Press Fellow...

Leia também

Notícias
7 de dezembro de 2022

Governo de Mato Grosso propõe norma que limita criação de áreas protegidas no estado

PEC fere Constituição Federal, diz Rede Pró-Unidades de Conservação. Proposta ainda precisa passar pelo crivo de deputados estaduais

Reportagens
14 de novembro de 2022

O Código Florestal será a base de diálogo com Lula, diz governador de Mato Grosso

Eleito tanto em 2018 quanto em 2022 com base na agenda bolsonarista, Mauro Mendes afirma que estados da Amazônia Legal podem ajudar o governo federal no combate aos crimes ambientais

Notícias
30 de novembro de 2022

Amazônia perdeu 11,5 mil km² de floresta em 2022, aponta INPE

Apesar de representar uma queda de 11% em relação à 2021, número, divulgado nesta quarta-feira (30), é o segundo maior em 14 anos

Mais de ((o))eco

Deixe uma resposta

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.