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Queimadas no Pantanal aumentam 189% em relação a 2019 e batem recorde

Este ano já foram registrados 3.415 focos de queimada, o maior número já registrado desde 1998, quando começou o monitoramento do INPE no bioma

Duda Menegassi ·
22 de julho de 2020 · 4 anos atrás
Focos de incêndio bateram recorde nos primeiros 7 meses de 2020 no Pantantal. Foto: Gustavo Figuêroa/SOS Pantanal.

O número de focos de queimada no Pantanal até o dia 21 de julho deste ano é o mais alto registrado no bioma desde 1998, quando começou o monitoramento do INPE através do Programa Queimadas. Entre os dias 1º de janeiro e 21 de julho, foram contabilizados 3.415 focos de calor, uma alta de 189% comparado ao mesmo período no ano anterior, quando houve 1.180 focos.

Em 2019, o total de focos de queimada ao longo do ano foi de 10.025, o número mais alto desde 2005, ano que registrou o maior número de focos na série histórica pro bioma, com 12.536 registros. Comparado com os primeiros 7 meses de 2005, os números de 2020 já são 41,4% maiores, antes mesmo do final do mês de julho.

Fonte: INPE/Queimadas.

A zona mais afetada pelo fogo é a região de entorno do rio Paraguai e o município de Corumbá, no Mato Grosso do Sul. De acordo com o diretor-executivo da ONG SOS Pantanal, Felipe Augusto Dias, este ano registrou uma inundação menor do que o normal o que deixou uma quantidade maior de áreas secas e expostas ao fogo. “O rio Paraguai não encheu esse ano e essa área fica disponível para incêndios acontecerem”, explica ao ((o))eco o diretor.

“Você tem uma área que ano passado não pegou fogo e está disponível ali na região da Serra do Amolar e grande parte de Corumbá, que é uma cidade portuária no rio Paraguai, e que são regiões de difícil acesso, a maioria só por embarcação fluvial ou via aérea, o que torna o problema mais complicado para combater”

Segundo ele, essa alteração na dinâmica hídrica do Pantanal já está sendo registrada há alguns anos, como consequência das mudanças climáticas globais, mas está ainda mais evidente este ano.

“A gente vê o Pantanal sempre como uma área úmida – e de fato é -, mas é uma planície de inundação, não é um pântano, que chova ou não tem água. O Pantanal no período seca chega a esturricar [torrar] e se você não tem o processo de inundação, que é o que torna essa área úmida, você fica com a vegetação seca o que aliado com a temperatura, acaba proliferando esses incêndios de uma forma mais severa”, conta Felipe.

A preocupação é ainda maior porque historicamente o primeiro semestre do ano é o que apresenta os níveis mais baixos de queimadas e o número de focos tende a se intensificar nos meses de agosto e setembro. E a previsão é de um ano bem seco no Pantanal. Segundo boletins meteorológicos, a expectativa é de que grandes chuvas só ocorram na região em novembro.

O diretor explica ainda que a vegetação do Pantanal, com muita influência de espécies do Cerrado, tem uma boa capacidade de recuperação ao fogo, mas a mesma sorte não se aplica aos animais, que podem ser a grande vítima colateral desses incêndios. “O Pantanal vegetativamente se recupera muito rapidamente, minha maior preocupação com os grandes incêndios são com os animais, principalmente aqueles que não têm velocidade”, acrescenta.

Foto: Gustavo Figuêroa/SOS Pantanal

Decreto suspende uso de fogo no Pantanal

Na última quinta-feira (16), foi publicado o decreto presidencial nº 10.424 que restringe o uso do fogo por 120 dias em todo território nacional, com proibições adicionais à localidades dentro do bioma Pantanal e Amazônia, onde nem mesmo as queimas controladas serão permitidas.

“Proibir é a mesma coisa que dizer “não pode fazer”, mas não é uma verdade pra todo mundo que está lá dentro. A fiscalização também é fraca, é complicado você dizer que isso vai resolver o problema”, pontua o diretor da SOS Pantanal. Ele ressalta que a maior parte dos incêndios têm origem humana, mas não proposital. “O fogo é utilizado para manejo de pastagens, por exemplo, ou mesmo para queimar o lixo, há uma série de atividades em que as pessoas usam o fogo e apagam, mas dependendo da região esse fogo só apaga superficialmente e fica mais embaixo [fogo subterrâneo] e vai queimando a matéria orgânica na turfa e depois se alastra”, explica.

 

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  • Duda Menegassi

    Jornalista ambiental especializada em unidades de conservação, montanhismo e divulgação científica.

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