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E a política?

Não é difícil constatar que a maioria dos problemas das grandes cidades tem uma relação direta com o meio ambiente. O que os candidatos a prefeito pretendem? Pouco se sabe.

12 de maio de 2008 · 17 anos atrás
  • Paulo Bessa

    Professor Adjunto de Direito Ambiental da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO)

“You’ll excuse me, gentlemen. Your business
is politics, mine is running a saloon”
Rick Blaine

Estamos em mais um “ano eleitoral”. Desta vez é um ano eleitoral municipal. Bem, o nosso negócio não é política, muito menos dirigir uma espelunca. Mas, o fato é que muitos políticos pretendem dirigir nossas cidades como se espeluncas fossem e, se depender deles, certamente elas as transformarão em tal. Desta forma, precisamos estar de “olho aberto, ouvido atento e a cabeça no lugar”, como disse Sérgio Ricardo. Temos falado muito de dengue e, nem de longe, estamos associando a dengue aos desmandos ambientais que são cometidos diariamente em nossas cidades. Pretende-se que o mal afamado aedes aegypti seja o responsável pela dengue, quando em minha opinião, ele é o menos culpado de tudo. A culpa é muito mais nossa do que dele. Nunca é demais lembrar que os “biônicos” não existem mais e todos os nossos políticos foram eleitos pelo “povo”, pelos “bestializados”.

Parece pouco provável que a dengue tivesse a repercussão que tem em lugares nos quais os elementos básicos de saneamento e limpeza urbana fossem observados, tanto pelas “autoridades”, como pela população. A dengue é, antes de qualquer coisa, a conseqüência nefasta do caos ambiental que são as grandes cidades brasileiras e, especial, a cidade do Rio de Janeiro, cujo alcaide poderia muito bem ser conhecido por Epitáfio Maia, tendo em vista a melancolia de suas horas finais na gestão de nossa espelunca e o legado que nos deixará. “Se eu soubesse vem depois”.

O que os nossos candidatos pretendem para a Cidade do Rio de Janeiro e para as demais? Pouco se sabe, pouco se fala. A campanha, como sempre, será um espetáculo de mídia, programas televisivos, pouca informação, muita embromação. Alguém falará sobre uma cidade sustentável, desenvolvimento sustentável e, caso a conversa pegue, será sustentado pelo tesouro municipal durante quatro anos, no mínimo. Se examinarmos os principais problemas de nossas grandes cidades, não será difícil constatar que a imensa maioria deles tem uma relação direta com o que temos chamado de problemas ambientais. E mais: grande parte deles está na alçada das prefeituras, pelo menos do ponto de vista legal, muito embora a centralização de recursos econômicos na União, gere um desequilíbrio muito grande e faça com que a União somente apareça como “solução” dos problemas e não como uma parte relevante dele próprio.

Dengue é essencialmente um problema de limpeza pública e de educação básica. Duas atribuições municipais. A fase propriamente de “saúde” da dengue é uma conseqüência da inexistência dos elementos de base. As enchentes, deslocamentos de encostas e tantas outras mazelas têm como causas principais os mesmos fatores.

Seria interessante que algum estatístico nos apresentasse os números do desperdício de combustível causado pelos engarrafamentos, assim como as repercussões que eles produzem no sistema de saúde, na redução das horas de trabalho, etc. Tudo isto deveria ser relacionado com as promessas não cumpridas: VLT, HSST, Linha 4 do metrô e tantas outras que já não temos “nem vontade de brigar”. Enquanto isto nós continuamos com um sistema de ônibus que é um horror. O nível de ruído que os motoristas têm que agüentar com o motor dentro da cabine é algo fabuloso. Qualquer animal que esteja sendo levado para uma exposição é transportado com mais conforto do que em nossos ônibus. As vans apareceram não foi de graça. Infelizmente, nós estamos dormindo. “I’d bet they’re asleep in New York. I’d bet they’re asleep all over America.” Não vamos falar do lixo municipal, pois como sabemos, não se consegue solucionar uma questão que é, simplesmente, dramática no Rio de Janeiro. Temos ainda as praias que são verdadeiros bazares nos quais tudo acontece e o Poder Público permanece inerte e silente.

Enfim, problemas não faltam. Vamos aguardar e ver quem se apresenta com propostas concretas. Depois, não adianta chorar. “After all, tomorrow is another day.

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